Título: Violência em SP cai na gestão Alckmin
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 25/05/2005, Política, p. A8

Calcanhar de Aquiles do governo paulista, o número de homicídios no Estado caiu na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), segundo pesquisa divulgada ontem pela Unesco. Mas está 50,8% acima do que era registrado em 1993, antes do PSDB comandar o Estado. De acordo com o estudo, a segurança passou a ter melhores índices a partir de 2000, ano em que Alckmin assumiu. O atual secretário de Segurança Pública, Saulo Castro de Abreu, foi indicado em 2002. Os investimentos na pasta aumentaram e os indicadores de homicídio diminuíram, de acordo com o "Mapa da Violência" divulgado ontem, em São Paulo, pela Unesco. O estudo analisa as taxas de homicídios, suicídios e acidentes de transporte entre 1993 e 2003 e explica que a queda se deve a melhoria das ações do governo, mobilização social através de ONGs e articulação entre a esfera pública e a privada no combate à violência. De 1993 a 2003, o crescimento dos homicídios no pais foi em torno de 5,5 % ao ano: o Estado tinha 22% da população do país e era responsável por 36,8% do total de homicídios. Entre 1999 e 2003, os homicídios caíram 12,1% no Estado, e 18,9% na capital. Para o secretário Saulo, a população tem a sensação de que a violência é maior porque o governo não sabe comunicar os resultados. "Temos que cacarejar mais para mostrar nossas ações. Nosso problema é não ter um apelido para os programas de segurança, de não usar o marketing", diz. Um dos coordenadores do programa de segurança do governo de Mario Covas (1995-2001) coronel José Vicente da Silva Filho lembra que antes de 1999 os problemas eram devidos à falta de investimentos em segurança. "O governo tinha perdido controle da polícia. As medidas começaram em 1999 e Alckmin aumentou os investimentos. Hoje estão colhendo resultados", diz José Vicente, ex-secretário do Segurança de FHC. Com experiência de dois anos frente à Secretaria de Segurança de Guarulhos, cidade da região metropolitana governada por Elói Pietá (PT), Guaracy Mingardi ressalta o papel dos prefeitos no resultado positivo, com a implementação de programas sociais das prefeituras, para reinserção social e geração de emprego e renda, diminuem as estatísticas de criminalidade. Além dos programas sociais, Mingardi afirma que o aumento da repressão policial diminui a incidência do crime. "O governo aumentou o número de viaturas e de policiais. A polícia age mais, mas não significa que age melhor. Não houve melhora qualitativa, e sim quantitativa." A população carcerária aumentou de 87 mil em 2000 para 131 mil em 2004. Com o cruzamento dos dados da Secretaria de Segurança paulista e do Ministério da Saúde , o relatório indica divergências entre o que foi divulgado pelo Estado e o que registra o Ministério : a secretaria informa números menores sobre a violência. Em 2003, por exemplo, a secretaria de Alckmin indica que o número de homicídios dolosos foi de 28,3 por 100 mil habitantes, mas a Unesco aponta 35,9 por 100 mil. Os números são iguais em 2001, ano em que Alckmin assumiu o governo. Atual diretor científico do Ilanud, instituto ligado à ONU para prevenção do delito, Guaracy comenta uma das formas que podem ser utilizadas para uma possível distorção dos dados. "A secretaria pode não contabilizar todos os boletins de ocorrência. Quando se pressionam os delegados para diminuir as estatísticas, alguns homicídios são registrados como morte a esclarecer." Mas os maiores problemas da gestão Alckmin estão relacionados com o cuidado dos jovens infratores, tratados atualmente pela Secretaria da Justiça. As unidades da Fundação do Bem-Estar do Menor (Febem) registraram somente neste ano 28 rebeliões, mesmo número do ano passado. Na semana passada, momentos depois do fim de uma rebelião, Alckmin determinou que todos os maiores responsabilizados sejam transferidos para presídios. Em mais uma investida para realçar as realizações do Estado, o governador convocou ontem uma reunião do secretariado para anunciar um pacote de 46 projetos estratégicos até o fim de seu mandato. À semelhança do "Brasil em Ação", do governo FHC, cada projeto terá um gerente encarregado da busca de resultados.