Título: Telmex reforça investimento na Embratel, mas enfrenta desafios
Autor: Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 25/05/2005, Empresas &, p. B1

Grupo mexicano subscreveu R$ 1,6 bilhão em novas ações da concessionária

O mexicano Carlos Slim novamente fez valer a fama de investidor habilidoso ao subscrever R$ 1,6 bilhão do aumento de capital de R$ 1,8 bilhão feito pela Embratel nas últimas semanas. O que à primeira vista parece um "mico" - já que os minoritários não se interessaram pela oferta de ações da empresa - permitiu à Telmex reduzir quase à metade o custo médio da aquisição do controle da operadora, segundo cálculos de analistas. O grupo mexicano também elevou de 19% para 63,9% sua participação no capital total da concessionária de longa distância. Nessa manobra, a Telmex quase dobrou o valor do investimento feito para adquirir a operadora. Quando comprou a Embratel, Slim investiu cerca de R$ 1,9 bilhão pelas ações do bloco de controle e para pagar o chamado "tag along" aos acionistas minoritários. Na época, pagou cerca de R$ 16 pelos papéis. Agora, diluiu o preço por ação para R$ 7. Anunciado em dezembro e concluído neste mês, o aumento de capital de US$ 700 milhões foi feito por meio de uma emissão privada. No entanto, os minoritários da companhia não subscreveram a maior parte das ações a que teriam direito. Os papéis da Embratel em bolsa caíram nos primeiros meses do ano, o que fez com que o preço de R$ 4,3 definido para a oferta ficasse acima do valor dos papéis no mercado - logo, pouco atrativo para os investidores. A operação só foi fechada depois de duas rodadas de rateio de sobras, nas quais a Telmex comprou os papéis. Na avaliação de analistas ouvidos pelo Valor, a estratégia foi milimetricamente calculada por Slim - inclusive o comportamento dos investidores. "O aumento de capital era muito grande, maior do que o valor da empresa em bolsa. O mercado não teria apetite para digerir outra Embratel e a Telmex estava disposta a injetar recursos", diz o analista Stephen Graham, do UBS. Considerando que a rentabilidade da Embratel fique estável nos próximos anos, ao elevar a participação no capital a Telmex melhora o retorno do investimento feito na compra da empresa, acrescenta Roger Oey, analista do Banif. O episódio é uma amostra do estilo característico - e preciso - de Slim para fazer negócios. Afinal, foi comprando papéis baratos de empresas em dificuldade financeira que o mexicano se fez o homem mais rico da América Latina, com uma fortuna de pelo menos US$ 23,8 bilhões, segundo a revista "Forbes". Resta saber se Slim conseguirá demonstrar como administrador a mesma habilidade que tem para os investimentos. Um ano depois de ter sido adquirida pela Telmex, a Embratel continua perdendo mercado em longa distância e dados, que têm se mostrado pouco rentáveis, e não conseguiu reagir ao bombardeio das concorrentes. Ao mesmo tempo, a operadora pouco avançou em telefonia local, mercado que definiu como estratégico. A participação pequena dos minoritários no aumento de capital é um sintoma das dúvidas que pairam sobre o futuro da empresa. "A oferta foi feita num momento inoportuno. O mercado está receoso com a Embratel", diz o analista Alexandre Constantini, da Bear Stearns. "Mas Carlos Slim sabe melhor do que ninguém quais são as perspectivas de crescimento para a Embratel." É certo que o mexicano vai buscar sinergias entre seus negócios de telecomunicações no país - além da Embratel, o grupo tem 37% da Net, da Telmex do Brasil (antiga AT&T Latin America) e da operadora de celular Claro. Isso ficou ainda mais evidente anteontem, quando a Embratel anunciou que deverá absorver o investimento na Net e na Telmex do Brasil, fortalecendo sua presença na telefonia local residencial e no mercado corporativo. Porém, ainda há uma lista de questões em aberto. As principais delas são como e quando isso vai acontecer. Desde que foi adquirida pelos mexicanos, a Embratel adotou uma postura discreta e de poucas palavras, com o mercado e com a imprensa. "A impressão que se tem é que nem para eles as coisas estão claras", diz um analista que acompanha a Telmex. Segundo fonte ligada à Embratel, ainda está em fase inicial o projeto de um acordo que permitirá à empresa usar a rede da de TV por assinatura da Net para oferecer telefonia local. Desde 2003, a Embratel tenta avançar no mercado de voz local, que gera margens melhores do que o segmento de longa distância. Porém, o negócio não chega a 10% da receita da companhia. A incursão da operadora nesse terreno esbarra no fato de ela não ter uma rede capilarizada chegando ao cliente final, o que encarece muito o custo do serviço. A parceria com a Net é uma tentativa de reduzir essa dificuldade. Observadores que acompanham a companhia avaliam que a Telmex tem um desafio cultural a vencer para recolocar a Embratel em rota de expansão. Acostumado a ter quase o monopólio das comunicações no México, o grupo controlado por Slim tem reproduzido o mesmo modelo de gestão no Brasil. "Com essa visão monopolista, eles estão demorando a reagir à concorrência", diz um executivo que trabalhou por mais de 30 anos na Embratel. "O plano faz muito difícil no papel, mas é difícil de implementar", ressalta Graham. O analista do UBS avalia que o valor dos ativos da Net e da Telmex do Brasil pode chegar a US$ 557 milhões. Até agora, o grupo mexicano concentrou esforços para arrumar a casa e enxugar despesas. Austeridade tornou-se palavra de ordem na nova Embratel. Aumentos de salários foram suspensos e até mesmo contratos de táxi foram revistos, numa mudança radical em relação ao que acontecia nos tempos em que a operadora era controlada pela MCI (então WorldCom). "Agora é que a privatização chegou lá", afirma fonte ligada a uma operadora rival. A privatização da telefonia no Brasil ocorreu em 1998. A mudança já é visível nos números da operadora. O balanço do primeiro trimestre de 2005 mostra queda de 19,5% nas despesas gerais e administrativas, frente ao mesmo período do ano passado. Com isso, o lucro líquido aumentou de R$ 4,6 milhões para R$ 43,3 milhões, apesar da estagnação da receita. Analistas alertam, porém, que essa estratégia tem limites. "O que faz uma empresa crescer é gerar receita e não cortar despesas", ressalta um deles. Segundo um interlocutor próximo à Embratel, o estilo "franciscano" da Telmex teve conseqüências negativas, como a redução das comissões à equipe de vendas e um distanciamento dos clientes corporativos, que geram a maior parte da receita da empresa. A Embratel e a Telmex não quiseram dar entrevistas.