Título: Jornais discutem código de auto-regulamentação
Autor: Eliane Sobral
Fonte: Valor Econômico, 25/05/2005, Empresas &, p. B6

A Associação Nacional dos Jornais (ANJ) trabalha na confecção de um código de auto-regulamentação que funcione nos mesmos moldes do Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar). Os princípios éticos do conselho serão os mesmos que hoje a entidade defende como os "10 Mandamentos do Jornal Competitivo" - entre eles, o que determina que os jornais adotem o Índice de Verificação de Circulação (IVC). Segundo o diretor-presidente da ANJ, Nelson Sirotsky, o grande desafio é estabelecer parâmetros e estabelecer penalidades para casos de descumprimento das determinações que o conselho vier a estabelecer. "Entendemos que o Conar é um instrumento eficiente para regular as relações comerciais entre veículos, anunciantes e agências. O que nos propomos é avançar e criar um patamar que discuta e norteie também a atividade empresarial dos jornais", disse Sirotsky no encerramento do seminário "Virada de Página, a nova era dos jornais", realizado ontem em São Paulo. Pouco antes de Sirotsky encerrar o evento, o presidente da Associação Brasileira das Anunciantes (ABA), Orlando Lopes, cobrou mais responsabilidade e controle, por parte dos veículos de comunicação, sobre os conteúdos que produzem. "Os anunciantes não podem interferir no conteúdo, mas também não pode ser responsabilizado por eventuais excessos que venham a ser cometidos", disse Lopes acrescentando que a queixa da ABA remonta à campanha "Quem financia a baixaria é contra a cidadania", veiculada ano passado contra alguns programas de televisão. "Os anunciantes não controlam o conteúdo dos veículos, nós controlamos a comunicação das marcas e para que essa comunicação aconteça de forma ética, responsável e eficiente, temos o Conar. O surgimento de um conselho de auto-regulamentação para os veículos é o melhor caminho", disse Lopes. Nelson Sirotsky, da ANJ, disse que a entidade já tem seu código de ética, mas reconheceu que ele não é muito valorizado. A retomada das discussões se deu, disse ele, como resposta à iniciativa do governo federal de criar o Conselho Federal de Comunicação. "Estamos buscando evoluir do nosso código de ética, que são os dez mandamentos, para algo maior que pode funcionar nos mesmos moldes do Conar", disse o presidente da ANJ. Segundo Sirotsky, os jornais brasileiros passam por um processo de recuperação, depois de um período de retração na circulação - entre 1999 e 2003 a circulação chegou a cair 8%. "A partir de 2003 iniciamos o processo de recuperação e em dezembro de 2004 registramos um crescimento de 6,3% em relação a igual período de 2003", comentou o presidente da ANJ. O seminário realizado ontem pela ANJ em São Paulo discutiu o futuro dos jornais brasileiros e contou com a participação do presidente do International Newspaper Marketing Association (INMA), Eivind Thomsen. Ele contou que na Noruega os diários gratuitos distribuídos na rede pública de transportes, em especial nas estações do metrô, aumentaram a circulação dos jornais pagos daquele país. "Porque os periódicos gratuitos trazem um resumo da informação, funcionam como chamariz para que o leitor busque mais dados sobre determinado assunto nos jornais pagos". De acordo com Thomsen, 70% dos leitores que recebem os jornais gratuitos nas estações do metrô de Oslo compram exemplares da chamada grande imprensa. A Noruega tem 132 jornais, segundo Thomsen, e o que tem maior circulação vende 45 mil exemplares diariamente. Para o presidente da INMA, o "pulo do gato" para a sobrevivência dos jornais impresso é a utilização de plataformas de distribuição de informação gratuita. "Seja por meio dos jornais gratuitos no metrô de Oslo ou o acesso aos sites com conteúdo grátis, os jornais precisam chamar o público para a versão impressa e com conteúdo mais analítico", disse Thomsen.