Título: Inflação disseminada
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 03/04/2010, Economia, p. 12

Consumidores, que já sofrem com a carestia dos alimentos, terão de absorver os reajustes dos remédios e de todos os produtos fabricados com aço, como carros e eletrodomésticos

Os consumidores que andam reclamando da alta dos preços nos supermercados vão ficar ainda mais assustados. A partir deste mês, terão de arcar com o aumento superior a 5% nos medicamentos e serão obrigados a pagar mais caro por todos os produtos fabricados com aço, devido ao reajuste de mais de 90% no minério de ferro anunciado pela Vale. Pelas contas da economista Tatiana Pinheiro, do Banco Santander, sozinho, o minério de ferro impactará em 1,46 ponto percentual os índices gerais de preços (IGPs), usados como referência para a correção dos aluguéis e das tarifas públicas. Quando levada em conta toda a cadeia produtiva que gira em torno do minério, o efeito chegará a 3,4 pontos. Não é à toa, na avaliação da economista, que o Banco Central acendeu a luz vermelha e vai pisar fundo na elevação da taxa básica de juros (Selic) no fim deste mês. Ela ressaltou que, a despeito de, no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para o sistema de metas do governo, o peso do reajuste do minério de ferro não ser tão grande ¿ somente 0,2 ponto percentual ¿, o indicador continuará pressionado. Deverá variar entre 0,4% e 0,5% em abril e maio, sobretudo por causa dos remédios e das contas de luz, que terão aumento em Minas Gerais, Ceará e Mato Grosso do Sul. Na próxima quinta-feira, o IBGE divulgará o IPCA de março, que deve cravar 0,49%. A se confirmar esse número, o índice acumulado no primeiro trimestre baterá em 2,03%, quase a metade do centro da meta perseguida pelo BC, de 4,5%.