Título: PT adia para dezembro definição de alianças
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2005, Política, p. A5

Com receio de que a briga pelo governo estadual interfira na escolha do presidente nacional do PT, em setembro, o partido determinou que a realização de prévias e a definição das alianças estaduais só serão estabelecidas a partir de dezembro, depois do Encontro Nacional dos militantes. A resolução tirada durante o último encontro da direção do PT, em São Paulo, tem como alvo dois Estados onde as disputas são emblemáticas: Rio de Janeiro e São Paulo. Para o governo fluminense, o Diretório Regional petista lançou a candidatura do ex-deputado Vladimir Palmeira (RJ), afastando a possibilidade de aliança com o PSB, caso o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PPS), mude de partido e se lance como concorrente pela legenda. Vladimir chegou a afirmar que o Estado terá dois palanques governistas , caso Ciro seja seu adversário. De acordo com a resolução, Vladimir poderá continuar sua campanha pelo Estado, mas não poderá estabelecer nenhum acordo formal com outra legenda. Representante dos apoiadores de Vladimir, o deputado federal André Costa (RJ) analisou que o adiamento para dezembro poderá aumentar a crise interna. "Tenho receio de que o tiro saia pela culatra. Adiar a decisão não evita o debate. Pode ter um desgaste maior." O adiamento também está relacionado à tentativa do partido de ganhar tempo para resolver a disputa acirrada entre a ex-prefeita Marta Suplicy, o deputado João Paulo Cunha e o senador Aloizio Mercadante pela candidatura petista ao governo de São Paulo, e evitar a prévia. "A resolução foi uma das poucas decisões unânimes que tivemos", resumiu o deputado federal Chico Alencar (RJ). Membro da Executiva Nacional, Alencar participou da reunião do diretório, no fim de semana, e disse que com a medida o PT tenta evitar fissuras e uma luta "fratricida" entre os postulantes. "É uma medida prudente para concentrar forças. É um antídoto ao eleitoralismo porque proíbe definições, impede de fazer prévias e afasta a disputa como preocupação principal." Deixando para definir no próximo ano quem serão os apoiadores da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT pretende também minimizar os problemas com partidos da base aliada, como o PTB, alvo de denúncia de uma suposta corrupção nos Correios. Com o pretexto de fazer "um leque de alianças" em sintonia com o projeto nacional, o deputado federal Jorge Bittar (RJ), do campo majoritário, defende a resolução. "É uma medida para que o partido não tome decisões precipitadas", legitimou. "É bom separar o que é partido do que é o governo. Não se pode misturar disputa interna com candidatura. A discussão pode contaminar."