Título: Aumentam as assinaturas da oposição, mas governistas têm maioria na CPI
Autor: Henrique Gomes Batista e Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2005, Política, p. A6

Num dia em que o Planalto acionou ministros e anunciou o desbloqueio de R$ 700 milhões do Orçamento, no esforço para barrar a investigação de corrupção nos Correios, a oposição apresentou ontem mais 24 assinaturas, elevando para 242 deputados e 50 senadores o número de congressistas que autografaram o requerimento para a criação da CPI. Trata-se de um número acima do mínimo necessário - 171 deputados e 27 senadores - para a instalação da comissão, mas o governo insistirá na estratégia de retirada de assinaturas para tentar amanhã arquivar o requerimento. Caso se confirme a CPI, o governo tende a ter maioria nominal na indicação dos 32 titulares da Comissão (ver quadro ao lado). Levando em conta o tamanho das bancadas de ontem da Câmara e do Senado, partidos governistas indicariam 19 membros, a oposição 9 e os partidos classificados como independentes outros 4, segundo a mesa diretora do Senado.

Ontem, os ministros Aldo Rebelo, José Dirceu, Ciro Gomes, Eunício Oliveira e Eduardo Campos reuniram-se por mais de três horas, no Palácio do Planalto, para acertar a estratégia governista. Em desvantagem, o governo subiu o tom: "Não tentem fazer essas correntes políticas o que fizeram com governos anteriores, são as mesmas forças que tentaram derrubar o governo do presidente Floriano Peixoto sem sucesso, tentaram contra Getúlio Vargas, contra Juscelino, contra Jânio Quadros, contra João Goulart", afirmou Aldo Rebelo. O ministro afirmou que a oposição não pode confundir paciência do governo com covardia. "Como a direita e a oposição não têm candidato viável à presidência da República, não têm candidatos para enfrentar o presidente Lula, estão procurando criar artificialmente o clima de 1954, estão buscando um Gregório Fortunato, mas não vão achá-lo em nosso governo", disse, se referindo ao ex-guarda-costas do presidente Getúlio Vargas. O ministro afirmou ainda que o governo está combatendo forças políticas que buscam na desestabilização impedir que se consolide um governo que está obtendo vitórias que eles não obtiveram. Aldo também afirmou que respondia ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que no sábado afirmou que o atual governo está parecendo "um peru bêbado em véspera de Natal". O discurso de Aldo faz parte também da estratégia governista para esvaziar a CPI. Paralelamente, o ministro e os líderes combinam outras alternativas. "Estamos trabalhando com as duas possibilidades, a retirada de assinaturas ou o controle da comissão", afirmou Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo. Questionado como avaliaria de zero a dez a possibilidade da CPI não sair, Chinaglia foi direto: "4,9, sou reprovado, mas mostro que sou esforçado". Da tribuna, o senador Cristovam Buarque também fez um discurso sobre o golpismo. Para o senador, é real a existência de um certo clima golpista no atual cenário político nacional, mas, em sua opinião, esse fato não pode ser debitado à oposição. Estaria no interior da sociedade, seria uma espécie de "espírito de impaciência, comum a toda a América Latina", em virtude de a democracia não ter conseguido resolver os problemas básicos da população. O senador solicitou ainda ao presidente Lula que envie ao Congresso um orçamento "com a cara do PT", ou seja, que retire os recursos tradicionalmente destinados à parcela mais rica da população e efetivamente distribua renda. Nenhum deputado retirou assinaturas do pedido da CPI ontem. Faz parte da estratégia do governo. O objetivo é deixar as retiradas para o último momento para deixar pouco espaço para reação da oposição e impedir o constrangimento público de deputados. Se for confirmado o que está previsto e a leitura do requerimento da CPI ocorrer amanhã, o prazo final para a retirada de assinaturas será a zero hora de quinta-feira, dia 26.