Título: Lula critica petistas e aliados que apóiam investigação pelo Congresso
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2005, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou os parlamentares da base aliada, inclusive do PT, que assinaram o pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as denúncias na Empresa de Correios e Telégrafos (ECT). Em desabafo feito durante o vôo que o levou de Brasília a Seul entre domingo e segunda-feira, Lula afirmou que não entende por que deputados da base aliada assinaram o requerimento da CPI. Ele disse que a comissão é desnecessária porque a Polícia Federal e o Ministério Público estão na investigação. O presidente sustentou que não teme a instalação da CPI, embora tenha deixado em Brasília quatro ministros com trânsito no Congresso, e que participariam da viagem, para ajudar a impedir que a comissão seja instalada. "Não temos medo da CPI. Estamos tranqüilos. Não estamos acuados", teria dito o presidente, segundo relato de integrantes da delegação oficial que foi a Seul. A CPI foi o principal tema das conversas que Lula teve com os parlamentares que integram sua comitiva - os deputados Hidekazu Takayama (PMDB-PR) e João Caldas (PL-AL) e o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS). Na viagem, Lula evitou tratar da CPI com os dois governadores que também fazem parte da delegação. Ambos - o tucano Lúcio Alcântara (CE), e o pemedebista Germano Rigotto (RS) - são oposição ao governo. Na conversa com parlamentares, assessores e ministros, Lula procurou mostrar firmeza em relação à CPI. "Vamos jogar firme", afirmou ele, segundo depoimento de um dos participantes da conversa. "Teremos, nesse caso, um bom divisor de águas para saber quem quer ajudar a governabilidade e quem não quer", comentou Albuquerque, que defende um redesenho do governo. O presidente queixou-se dos problemas que vem tendo no Congresso, citando como exemplo o veto ao aumento de 15% aos funcionários da Câmara. Reclamou das decisões dos parlamentares que criam despesas sem que existam receitas equivalentes e lembrou que, no passado, o PT fez muito isso. "Seria importante que os deputados passassem pelo Executivo. Há limite de recursos", teria dito, segundo um interlocutor. Lula mostrou-se especialmente crítico em relação ao comportamento do PT. Elogiou o ministro das Cidades, Olívio Dutra, que, na última reunião da Executiva do PT, teria explicado aos petistas que é "muito difícil ser governo". O presidente reclamou da "fragmentação" política existente no Congresso e da dificuldade de conduzir partidos e bancadas. Evitando citar o nome do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), queixou-se uma vez mais do PT, que, na disputa pela presidência daquela Casa, lançou dois candidatos - Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e Virgílio Guimarães (MG). Naquele momento, assinalou Lula, o PT, como partido de maior bancada na Câmara, quebrou uma tradição parlamentar, produzindo uma situação difícil para o governo, que deixou de ter um petista no comando da Casa. Lula voltou a criticar o instituto da reeleição. Segundo ele, a recondução não tem sentido, a não ser que o governante esteja convencido de que pode fazer um segundo mandato melhor e que não seja obrigado a "acordos espúrios" para ganhar. Na conversa, chegou a aconselhar Rigotto: "Se você quiser ficar tranqüilo, não pense em reeleição". Mas nem tudo foi política no vôo até Seul, que durou 26 horas e teve duas escalas - nas Ilhas Canárias e na cidade russa Yekaterinburg. Na viagem, Lula comemorou com a primeira-dama Marisa Letícia 31 anos de casamento e assistiu ao filme Gaijin II, de Tizuka Yamazaki, além de um DVD de Zeca Pagodinho. Dos dez ministros que fariam parte da delegação, apenas cinco viajaram - Celso Amorim (Relações Exteriores), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), Antonio Palocci (Fazenda), Dilma Rousseff (Minas e Energia) e Roberto Rodrigues (Agricultura). Por motivo de saúde, o ministro da Comunicação do Governo, Luiz Gushiken, cancelou sua ida pouco antes do embarque. A grande expectativa da comitiva brasileira é a assinatura de memorando entre a Vale do Rio Doce e a siderúrgica coreana Posco (Pohang Iron and Steel Co.), para a futura criação de uma joint-venture, destinada a produzir aço no Maranhão. Ontem, houve uma reunião entre representantes das duas empresas em Seul, com a participação de assessores de Furlan, que acredita que a Posco fechará negócio com a Vale, em vez de optar pela Índia. À noite, o presidente participará de jantar oferecido pelo presidente da Coréia, Roh Moo-Hyun. Amanhã, ele tomará café da manhã com os presidentes das 14 maiores empresas coreanas. Na quinta-feira, seguirá com sua comitiva para o Japão.