Título: Crise ameaça indicação do governo para diretoria do BC
Autor: Alex Ribeiro e Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2005, Política, p. A8

A indicação do funcionário de carreira do Banco Central Alexandre Tombini para a diretoria de Estudos Especiais da instituição está ameaçada pelos desentendimentos políticos entre governo e oposição no Senado. A princípio, a sabatina do economista na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado está marcada para as 10h de hoje, mas havia a possibilidade de um cancelamento de última hora para evitar o risco de rejeição. Tombini, que trabalhava em Washington como assessor da representação brasileira junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI), já voltou ao país e, de forma discreta, fez até uma visita de cortesia a senadores e líderes partidários na semana passada. A aprovação do economista era tida como tranqüila até que, na quarta-feira, o plenário do Senado rejeitou o advogado Alexandre Moraes - indicado pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin - para integrar o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A oposição atribui a manobra ao líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e, desde então, não aprova nenhum nome indicado pelo governo. Ontem, o BC encerrou seu expediente sem uma definição se a sabatina iria ou não ocorrer. A oposição tende a permitir a apreciação da indicação. No entanto, não há ainda nenhum acordo para que ele realmente seja aprovado pelo plenário. "Vamos permitir sua apreciação, até porque ele é um ótimo nome e foi indicado por Armínio Fraga (ex-presidente do BC no governo Fernando Henrique Cardoso), porém não vamos apreciar nenhum nome no plenário até resolvermos como fica a indicação da Câmara mo Conselho Nacional de Justiça (CNJ)", afirmou o líder do PFL na casa, José Agripino (RN). O governo chegou a cogitar o cancelamento da audiência de Tombini. As tentativas de entendimento com a oposição vão prosseguir até instantes antes da sessão. "Há uma crise, mas estou aberto a negociar um acordo para permitir a indicação de nomes para diversos cargos", disse o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP). Ele voltou a afirmar que não articulou a rejeição de Moraes. A expectativa de diversos senadores, inclusive da oposição, é que Tombini passe pela CAE, mesmo com votação secreta. "Esse caso é muito especial, todos admiramos as qualidades técnicas de Tombini", disse Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB. Em março de 1999, logo após Armínio Fraga tomar posse, Tombini foi o escolhido para chefiar o então recém-criado Departamento de Estudos e Pesquisas Econômicas do BC, que dentro da burocracia da instituição forma o cérebro do sistema de metas para a inflação, elaborando modelos econômicos e redigindo documentos oficiais. Em 2001, passou a assessorar o representante do Brasil no FMI, Murilo Portugal, outro nome que também fez parte da equipe econômica do governo passado - e que recentemente assumiu a Secretaria Executiva do Ministério da Fazenda. Tombini deverá substituir no BC o economista Eduardo Loyo, que irá assumir a assumir a função de representante do Brasil no FMI. Em 2004, em meio a outra crise, o Senado levou três meses para aprovar a indicação do diretor de Política Monetária, Rodrigo Azevedo.