Título: Exportador eleva preço, mas manufaturado perde fôlego
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2005, Especial, p. A12

As exportações de manufaturados têm mantido um patamar elevado, mas o ritmo de crescimento no volume embarcado em relação a 2004 arrefeceu. Esse movimento decorre da alta do real e do menor vigor da economia mundial. As empresas têm poder para negociar reajustes de preços, que compensam o câmbio, mas o espaço para essa manobra está diminuindo. Por isso, companhias como Volkswagen e Siemens prevêem perdas de contratos de exportação no segundo semestre, caso o dólar se mantenha em R$ 2,40. O volume exportado de manufaturados subiu 16% em abril ante igual mês de 2004, percentual inferior aos 21% registrados na comparação entre janeiro a abril de 2005 ante janeiro a abril de 2004, conforme dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), obtidos com exclusividade pelo Valor. Os preços de exportação dos produtos aumentaram 11,7% em abril de 2005 ante abril de 2004 - patamar similar ao registrado desde o início do ano, que é considerado expressivo para esse tipo de produto. Os dados confirmam a perda de fôlego dos embarques de manufaturados. Para Fernando Ribeiro, economista da Funcex, a tendência é de desaceleração das exportações, puxada por manufaturados. Ele projeta crescimento próximo a 10% do quantum exportado de itens industrializados no acumulado do ano, bem abaixo dos 21% obtidos até abril. Levantamento do banco J. P. Morgan demonstra que o quantum exportado de manufaturados, livre de efeitos sazonais, começou a cair na ponta. Sempre na comparação com o mês anterior, o volume embarcado de itens industrializados subiu 5,3% em janeiro, depois caiu 6,5% em fevereiro, cedeu mais 1% em março e 0,9% em abril. Em 2004, esse indicador registrou alta quase ininterrupta. Segundo Júlio Callegari, economista do banco, o volume de exportações mais fraco chama a atenção, porque o ritmo de alta dos preços também tende a diminuir. Os importadores estarão menos propensos a aceitar reajustes. Depois da alta de 4% nos primeiros três meses do ano, a economia dos Estados Unidos deve crescer 3% no segundo trimestre, prevê o J. P. Morgan. Além disso, a alta das cotações dos produtos metálicos - que impacta automóveis e máquinas e equipamentos - deve enfraquecer no segundo semestre, após ajuste dos estoques mundiais. A alemã Volkswagen projeta queda de 15% a 20% nas exportações destinadas a mercados antigos no segundo semestre. Leonardo Soloaga, gerente de exportações da empresa, explica que o resultado só não será pior por conta das vendas do modelo Fox para a Europa, que começaram esse ano. "Esse é um projeto corporativo, que não será alterado", diz. Excluindo o mercado europeu, a tendência é que as exportações da Volkswagen fiquem estáveis no primeiro semestre. Segundo Soloaga, a empresa está perdendo competitividade por conta do câmbio, pois os rivais na Ásia não sofrem com o problema. Para atenuar as perdas, a filial brasileira da Volks está em negociação com seus principais mercados. Uma delegação da Argentina esteve na empresa na semana passada. Agora é a vez de uma equipe do México. Conforme Soloaga, o reajuste dos preços já superou 10% para os veículos vendidos na América Latina. O presidente da Siemens, Adilson Primo, reclama da perda de rentabilidade provocada pela apreciação cambial. O dólar fechou ontem a R$ 2,427 - menor patamar desde 6 de maio de 2002. "Em alguns casos, começamos a ficar no vermelho", diz. Segundo Primo, a empresa fechou contratos de exportação de bens sob encomenda na área de energia com o dólar a R$ 2,90 e está faturando o produto com a cotação em R$ 2,40. Na área de telecomunicações - na qual o ciclo de produção é mais curto e, portanto, é mais fácil repassar o câmbio - a companhia já elevou os preços de 8% a 10% desde fevereiro. Por enquanto, a Siemens não alterou a projeção de exportar US$ 250 milhões em 2005, 15% a mais que no ano passado. "Acho que o câmbio não fica onde está. Mas se o dólar se mantiver nesse patamar, vamos perder contratos no segundo semestre", diz o executivo. A Cecrisa, que produz revestimentos cerâmicos e tem 40% da receita líquida proveniente das exportações, teve um aumento de 19% no volume de vendas ao mercado externo de janeiro a abril ante igual período de 2004, com um ganho de 17% na receita em reais. A empresa foi obrigada a reajustar seus preços em dólar em 9%. Para o presidente da Cecrisa, Rogério Sampaio, isso significou perda de rentabilidade e reduziu o otimismo com os resultados do ano. "O real em um patamar tão alto sobre o dólar complica os negócios". Os dados da Funcex demonstraram forte queda no crescimento do quantum importado. Em abril, o volume de compras externas do país cresceu apenas 2% frente ao mesmo mês de 2004. De janeiro a abril, a alta chega a 7,7% na comparação com igual período do ano passado. O aumento foi de 18% em 2004 ante 2003. Mas o resultado de abril foi influenciado pela queda no quantum importado de combustíveis, que cedeu 40,6%. As compras de bens duráveis subiram 23%, de não-duráveis, 5,1% e de bens de capital, 11,4%. Segundo Ribeiro, os dados de maio devem mostrar aceleração das importações. (colaborou Raquel Salgado)