Título: Pólo do Agreste moderniza-se e cresce
Autor: Paulo Emílio
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2005, Empresas &, p. B10

Região produtora pernambucana começou nos anos 60, com sobras de tecidos; já são 12 mil fábricas

O terceiro maior pólo de confecções do país, localizado nos municípios pernambucanos de Toritama, Santa Cruz do Capibaribe e Caruaru, busca sair do anonimato da economia do país. As empresas vêm se modernizando, já exportam e são responsáveis pela criação e produção de coleções para grandes grifes nacionais. Tudo começou em meados dos anos 60, quando indústrias têxteis não sabiam o que fazer com os chamados restos de produção - tecidos de segunda categoria que não tinham espaço no mercado. Os caminhoneiros que viajam para o Nordeste recebiam este material das empresas que queriam se livrar dele e que acabou virando matéria-prima de produções incipientes (bermudas vendidas em feiras da região) que se tornou um novo parque industrial. "Hoje, já estamos agregando valor e não queremos apenas produzir roupas e sim moda", diz o diretor da 40 graus, Wanberto Barbosa, que recentemente abriu um escritório em São Paulo para ampliar seu mercado. Pesquisa feita pelo Sebrae em conjunto com o Sindicato da Indústria do Vestuário de Pernambuco (Sindivest/PE) aponta que o faturamento da cadeia têxtil estadual em 2003 chegou a US$ 1 bilhão. De acordo com o presidente do sindicato, Fredi Maia, o crescimento em 2004 foi de 18%. Para este ano, ele estima aumento de 10%. O pólo é formado por cerca de 12 mil empresas, na maioria de pequeno e médio porte, das quais menos de 9% são formais. Em 2004, o sindicato estima que o investimento alcançou R$ 300 milhões. Para 2005, a expectativa é de que o valor passe para R$ 500 milhões. As empresas do Agreste respondem por quase 70% de todo o faturamento estadual do setor. A formação do pólo, apesar de nenhum apoio do governo estadual, é resultado da inciativa de cada um. "As pessoas foram copiando o que o vizinho fazia e que dava certo. De certa forma, a omissão do Estado foi a maior responsável para que o pólo vingasse naquela região", diz Maia. Inicialmente, o mercado-alvo ficou concentrado nas pessoas de baixo consumo. As empresas buscam mudar novos consumidores, de poder aquisitivo maior. "Nossos investimentos são voltados para ampliar a participação de mercado, agregar valor às peças e desenvolver coleções para outras marcas", afirma Barbosa, da 40 Graus. Segundo o executivo, cerca de 70% dos negócios da empresa estão no segmento batizado de "private label", no qual a empresa desenvolve coleções para marcas nacionais e internacionais. A empresa opera atualmente com 60% de sua capacidade, produzindo cerca de 2 mil peças ao dia. A estimativa para este ano é de um crescimento de 5% no volume de negócios. Especializada em moda praia, a Iska Viva já conquistou a Europa. Com 22 funcionários e produzindo cerca de 20 mil peças mensais, a empresa adquiriu recentemente três novas máquinas eletrônicas para melhorar a qualidade do produto. Das 20 máquinas hoje em operação, apenas três são eletrônicas. Segundo a proprietária da Iska Viva, Vera Carvalho, a melhoria da qualidade visa atender a um público muito mais exigente, formado em grande parte por compradores de Portugal, Espanha e França. Com apenas quatro anos de existência, as exportações da empresa já respondem por cerca de 20% das vendas totais. Vera diz que a expectativa é de que o novo maquinário eleve este índice para 40%. Segundo ela, a boa receptividade da marca no exterior se deve à aposta em uma moda própria. "No ano passado, o Sebrae patrocinou cursos com grandes estilistas que estão conseguindo projeção internacional, como Eduardo Ferreira. Isso agregou valor, além de oferecer conhecimento primordial para a melhoria do produto", afirma Vera. O responsável do Sebrae pelo projeto do Pólo de Confecções, Mário Cesar Freitas, em 2004 exportações de empresas formais da região, que integram o consórcio de exportação, alcançaram US$ 300 mil. "Muitas empresas ainda operam de forma isolada ou através de tradings e muitas vendem direto a compradores internacionais em de produtos do pólo pernambucano", observa Freitas.