Título: Milho da Monsanto é questionado na UE
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2005, Agronegócios, p. B13
A divulgação de uma pesquisa realizada pela americana Monsanto comprovando que o consumo da sua variedade transgênica de milho MON 863 causou danos à saúde de ratos durante as pesquisas esquentou a polêmica sobre a segurança dos alimentos geneticamente modificados na União Européia. Ontem, a Autoridade Européia de Segurança Alimentar (EFSA) pediu cópia da pesquisa à empresa. "A Monsanto tem obrigação de nos mostrar sua pesquisa sobre o milho MON 863", afirmou Giorgio Calabrese, membro da EFSA, ao "Financial Times". De acordo com reportagem publicada pelo jornal britânico Independent no último dia 22, a pesquisa mostra que ratos alimentados com a variedade apresentaram redução dos rins e variações na composição do sangue, com possíveis prejuízos a seus sistemas imunológicos. Em um comunicado, a Monsanto afirmou que "este milho é tão seguro quanto o convencional, tanto para o consumo humano quanto animal e quanto ao meio ambiente, conforme comprovam diversos estudos independentes com este produto".
Segundo a multinacional, a pesquisa foi enviada para avaliação pelo Conselho de Ministros da União Européia para decisão final no dia 19 deste mês. A variedade MON 863 foi lançada mundialmente em 2003 e está em fase de aprovação comercial na Europa. Em abril, a EFSA chegou a publicar estudo considerando o milho transgênico seguro para consumo humano e animal. Na semana passada, o pedido de liberação foi colocado em votação por representantes do órgão e, dos 25 países-membros do bloco, dez foram favoráveis à aprovação da semente. A variedade MON 863 é produzida em escala comercial nos Estados Unidos e Canadá e aprovada para importação e consumo humano no Japão, Coréia, Taiwan, Filipinas, Rússia e México. Segundo a assessoria de imprensa da Monsanto no Brasil, a variedade é desenvolvida com um gene da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), que dá resistência a pragas do solo. Essa variedade não é liberada para uso comercial nos países da América do Sul. Ela é semelhante à MON 810, que possui um outro gene da bactéria Bt, responsável por dar resistência a pragas de folhas. Essa variedade já está aprovada comercialmente na Argentina e, no Brasil, está na lista de pedidos de liberação em análise pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Além dessa variedade, a CTNBio tem na lista de pedidos uma variedade de milho da Bayer e duas da Syngenta Seeds. Os pedidos serão analisados pela Comissão após a publicação de um decreto - hoje em estudo na Casa Civil - que regulamentará a Lei de Biossegurança (Lei 11.105/05), segundo informou a assessoria de imprensa do Ministério de Ciência e Tecnologia. Ainda conforme a assessoria de imprensa da Monsanto, a empresa não descarta a possibilidade de pedir a autorização para comercializar no Brasil a variedade MON 863. A multinacional observa que as variedades desenvolvidas nos Estados Unidos chegam ao país com atraso médio de dez anos e, portanto, a sua chegada em solo brasileiro ocorrerá no longo prazo. Segundo o International Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications (ISAAA), a UE tem 19 variedades de milho transgênico aprovadas (o MON 810 é o único aprovado nos 25 países). A área plantada com milho transgênico na UE é estimada em 150 mil hectares.