Título: Conversão de dívida da Eletrobrás em ações começa no dia 1º
Autor: Felipe Frisch
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2005, EU &, p. D2

Acaba na semana que vem, dia 31, o prazo para os acionistas da Eletrobrás exercerem o direito de preferência na aquisição das ações que serão criadas a partir do fim dos empréstimos compulsórios de 1988 a 1994. O preço da operação, de R$ 130,00 por mil papéis preferenciais (sem direto a voto) série B, está bem acima do valor de mercado das ações, de R$ 31,50 no fechamento de ontem. Isso quer dizer que, na prática, a compra não compensa. Cada ação que o investidor possuía em 29 de abril dá direito a comprar 0,05069 nova ação na oferta de troca. No dia 1º de junho, começa também a troca dos empréstimos compulsórios desse período por PNBs. Os compulsórios são dívidas, criadas entre 1977 e 1993, da Eletrobrás com consumidores industriais que tinham consumo superior a 2.000 kWh. Nas contas das concessionárias fornecedoras de energia para estas empresas, vinha um valor a mais referente a esses empréstimos, que seriam pagos em até 20 anos. Os créditos são corrigidos pelo IPCA-E e remunerados com juros de 6% ao ano. Mas as companhias criaram um mercado secundário desses papéis para não ficar com o dinheiro imobilizado por um período tão longo. As Unidades Padrão (UPs), que definem quanto cada credor tem a receber, eram vendidas inicialmente com forte deságio, de até 80%. Desde 1988, a Eletrobrás vem convertendo esses empréstimos, de acordo com o período de emissão, em ações. Esta é a terceira e última troca. A conversão pode provocar uma diluição de até 30% no capital que as PNBs representam da Eletrobrás e em torno de 5% no capital total da empresa. Se a troca for expressiva, também pode ser o fim do mercado de UPs. Na operação, poderão ser convertidos R$ 3,542 bilhões em 27,246 bilhões de ações. É a expectativa de perda na participação - inclusive em dividendos - que tem feito as ações da estatal serem negociadas muito abaixo do valor patrimonial. Mas a novela dos compulsórios ainda não está no fim. Algumas empresas contestam na Justiça o valor da conversão não pelo de pregão, mas pelo patrimonial, R$ 130,00 o lote de mil, que lhes dá direito a menos ações. Se forem vitoriosas, o risco é de diluição ainda maior e de prejuízo para a própria Eletrobrás, que já provisiona a perda de parte desses processos no balanço. Além disso, pode haver quem prefira manter o crédito em vez de trocá-lo por menos de um quarto do que consideram justo. Quem ficar com os créditos poderá ter de esperar até 2015 para receber o pagamento - os primeiros vencimentos são de 2008. "A conversão vai ser grande, pois ninguém quer arriscar de só receber só lá na frente", diz Pereira, do BES. Já para quem não tiver urgência dos recursos, o certificado pode representar um bom negócio. "O papel paga juros reais de 6% ao ano" diz Rafael Quintanilha, da Ágora Senior. Isso só considerando o valor de face, mas o investidor pode ter adquirido o crédito com deságio. "Mas quem não converter pode ter de esperar três anos para receber", pondera o analista. Outro problema, somado ao da diluição de capital, é o risco de um movimento forte de venda das ações pelas empresas imediatamente após o recebimento, avalia Pereira, do BES. No ano, as ações PNB da elétrica têm tido, em média, negócios com 688 milhões de ações por dia. "A desova poderia corresponder a 40 pregões da Eletrobrás de uma vez só", diz. Segundo analistas, a Eletrobrás deu a entender em uma teleconferência que já procurou as empresas pedindo que não vendam os papéis todos de uma vez. "A estratégia pode ser segurar, por enquanto, as ações para vendê-las depois em bloco", diz Quintanilha, da Ágora. Negociar os papéis todos de uma só vez no pregão pode representar perda imediata para os próprios credores, que teriam que vendê-las por um valor mais baixo e ainda ficariam com papéis de menor valor guardados, caso não conseguissem vender tudo. A partir de 1º de junho, as empresas e pessoas que possuem créditos encontrarão um passo-a-passo no site de Relações com Investidores da Eletrobrás explicando como fazer a conversão dos créditos em ações. Cada detentor enviará para a estatal os códigos de seus compulsórios. A empresa pedirá ao Itaú - custodiante das PNBs - que distribua as ações a que cada um tem direito. Petrobras, Vale, siderúrgicas e produtoras de alumínio estão entre os maiores credores, pela avaliação do mercado.