Título: "Mercado Ético" exibirá boas ações corporativas
Autor: Marília de Camargo Cesar
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2005, EMPRESA & COMUNIDADE, p. F3

A publicitária Christina Carvalho Pinto fecha nos próximos dias um contrato com uma rede de televisão para veicular o "Mercado Ético", um programa para divulgar iniciativas éticas e de responsabilidade social das empresas e de governos. O formato do novo programa também está sendo definido. A escolha está entre um semanal de meia hora nos moldes do modelo americano "Ethical Marketplace", que estreou em abril nas estações públicas nacionais (PBS), ou em doses diárias de cinco minutos para irem ao ar de segunda a sábado. Nos EUA, o "Ethical Marketplace" já atinge 42 milhões de domicílios. Ao lado de dois outros sócios na JCS Consultores, Christina está trazendo ao país um produto inventado pela economista americana Hazel Henderson, conhecida mundialmente por pregar a introdução de valores mais solidários na economia global. Hazel também tem sido ouvida em seminários internacionais sobre desenvolvimento sustentável e estudada em universidades por ter criado os indicadores Calvert-Henderson, que incluem medidas regionais de qualidade de vida, saúde, direitos humanos e meio ambiente, entre outros, na hora de definir o que é a prosperidade de um país. Hazel Henderson é uma das pensadoras que se opõem à noção liberal de que as empresas servem apenas para proporcionar o máximo possível de lucro para os seus acionistas. "Acionistas são gente também e pessoas têm muitos outros valores além do resultado financeiro." Segundo ela, o grupo Calvert queria descobrir se também havia acionistas que se importavam com o planeta, o bem-estar dos empregados e o futuro de seus netos, por exemplo. Quando lançou seus indicadores Calvert-Henderson e os fundos atrelados a empresas socialmente responsáveis, eles cresceram rapidamente, conta Hazel ao Valor. O grupo Calvert é um gestor de fundos com 25 anos de atuação naquele mercado, 400 mil investidores e mais de US$ $10 bilhões em ativos. Segundo a economista, já existem cerca de duzentos fundos que seguem critérios sociais, de meio ambiente e de ética. Em resumo, levam em consideração três pês, em inglês, pessoas, planeta e lucro. "O chamado protocolo global de contabilidade já é aceito por 600 empresas multinacionais. Nos EUA há US$ 2,2 trilhões em ativos em fundos mútuos ou de pensão gerenciados de acordo com esses critérios. É um novo paradigma". Diante de um mercado antenado com esses novos valores, Hazel viu uma oportunidade para lançar o programa de tevê. No Brasil, o programa será dirigido por Rosa Alegria, vice-presidente do Núcleo de Estudos do Futuro, da PUC-SP. Segundo Rosa, o produto vai criar também o conceito de patrocinador ético. As empresas que se interessarem por apoiar o programa terão que passar antes pelo crivo do Instituto Ethos ou do Acatu, no caso de empresas de bens de consumo. "Empresas que passem pelos critérios desses institutos serão bem-vindas, tanto para patrocínio como para servir de case", afirma Christina.