Título: Empresa que incentiva voluntários alcança diferencial, diz analista
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2005, EMPRESA & COMUNIDADE, p. F4

Mobilizar funcionários para o voluntariado é fácil. "O desafio é encontrar oportunidade para todos", adverte Ruth Goldberg, consultora para voluntariado empresarial. De fato, são cerca de 60 milhões de adultos brasileiros que confessam a intenção de fazer algum trabalho voluntário, segundo pesquisa de 1995 do Instituto de Estudos da Religião (Iser) em parceria com a Universidade Johns Hopkins. Do outro lado, são 276 mil organizações sociais - "todas demandando recursos, mas raras com programas dirigidos para voluntários", observa Bruno Ayres, coordenador do www.portaldovoluntario.com.br . "Mesmo que as organizações estivessem preparadas, seria impossível oferecer trabalho a todos". A empresa, no entanto, deve estimular o voluntariado corporativo, na opinião de Maria Elena Johannpeter, presidente da Parceiros Voluntários. "O mercado vê a companhia não apenas como fabricante de determinado produto ou prestadora de algum serviço", diz. "O mercado exige que a empresa tenha um diferencial - justamente a responsabilidade social". Para ter sucesso, a empresa precisa atender a todos os públicos, "e um deles é a comunidade". É apoiando um projeto da comunidade, que se identifique com sua visão e missão, que a empresa arremata sua identidade. "Trabalhando com o apoio dos voluntários, a empresa estará interagindo com a comunidade", diz Maria Elena. Ao atender estrategicamente a comunidade, a empresa materializa valores intangíveis - "como uma marca respeitável, credibilidade e reputação". Segundo Maria Elena, os valores intangíveis da empresa representam 75% do seu patrimônio. Os outros 25% são ativos físicos. "Depois do expediente, a fábrica vira um depósito de máquinas", diz. "Para fazer a transformação, o voluntariado interno é o parceiro ideal para a estratégia da empresa. É ele que vai localizar as demandas, envolver a empresa e se sentir responsável pela solução". O voluntariado é também uma forma de resgate da auto-estima dos funcionários, segundo Ruth Goldberg. "Quando participam de uma ação em que toda a comunidade sai ganhando, eles adquirem a sensação de pertencer, aquela sensação de que podem transformar o mundo". Ruth diz que as empresas, enfim, estão percebendo que funcionário feliz produz mais. Os programas de voluntariado atuam justamente nessa questão: "Novas lideranças surgem, quando o funcionário participa de forma ativa em projeto na comunidade; ele pode nem ser líder em seu departamento, mas tem oportunidade de desenvolver outros potenciais e ganhar o respeito e a admiração dos colegas." Embora muitas empresas estejam trabalhando de forma a incentivar o voluntariado, Bruno Ayres aponta um erro grave de muitas corporações: "Como ter a pretensão de promover o voluntariado, se isso deve ser espontâneo em cada um?" Ayres diz que as empresas tendem a valorizar seus próprios projetos, ignorando o que muitos funcionários já fazem. "As empresas muitas vezes têm dificuldade em engajar seus funcionários em projetos sociais porque estão preocupadas com a quantidade de tempo que o voluntário doa, não com a qualidade do tempo doado". Ayres é a favor da decisão pessoal dos funcionários. Uma das possibilidades, diz, é construir um blog na intranet e liberar os funcionários a trocar informações e se agrupar em ações sociais. "Eles mesmos vão construir as redes de acordo com suas afinidades e disposições; serão os protagonistas e agentes da ação, dentro ou fora de um ambiente institucional". Para tanto é fundamental o tripé que inclui espontaneidade, não retribuição material e finalidade pública, segundo Ayres. Quando os voluntários se organizam e se engajam num projeto em que todos os públicos com os quais a empresa se relaciona saem beneficiados, aí vale divulgar as ações. "O consumidor tem o direito de saber o que a empresa da qual está comprando um produto faz no campo da responsabilidade social", defende Ruth Goldberg. "É direito do consumidor saber se a empresa polui rios, se emprega mão-de-obra infantil, se está comprometida com as gerações futuras". Maria Elena Johannpeter acredita que isso ainda deve acontecer, "mas só quando as empresas contabilizarem a responsabilidade social como investimento, não como gasto". (S.T.)