Título: Quebradeira de coco planta ervas
Autor: Silvia Czapski
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2005, EMPRESA & COMUNIDADE, p. F5

Mulheres que vivem do babaçu ganham alternativa para geração de renda

Chambá, malva santa, mentrasto, aroeira, moringa. Mais conhecidas regional-mente, estas são algumas das plantas medicinais que ajudarão trabalhadoras rurais e quebradeiras de coco de babaçu da comunidade de São João da Mata, no município de Lago dos Rodrigues (MA), a garantirem renda extra. Além de plantar, as mulheres terão a assistência de um farmacêutico para produzir chás, pós, tinturas, xaropes. O projeto Farmácia Viva beneficia inicialmente 11 famílias. Resulta de uma parceria entre duas associações comunitárias regionais (de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Lago do Junco e de Lago dos Rodrigues - MTR e em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão - Assema), a Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura e a Aveda, indústria de cosméticos presente em mais de 25 países interessada em comprar os produtos finais. Também tem apoio técnico da Universidade Federal do Ceará. " Estamos na fase de capacitação dos integrantes e registro dos produtos " , explica uma das líderes do processo, a quebradeira de coco Francisca dos Santos. Ela descreve a proposta como um novo passo de uma ação iniciada nos anos 1980, pelas tradicionais quebradeiras de coco. O município situa-se no vale do Rio Mearim, área de maior concentração de babaçuais do país. Se o Maranhão é responsável por 80% da produção brasileira de amêndoas de babaçu e a atividade ocupa 300 mil pessoas no Estado (90% mulheres), cerca de metade está naquela região. A técnica da coleta, relata Francisca, passa de mãe para filha, há muitas gerações. É atividade pesada, que sempre complementou a renda familiar. Enquanto os maridos cuidavam da roça, elas buscavam frutos do babaçu, para abastecer as famílias (azeite, ração para animais e carvão da casca) e vender uma parte, com baixos ganhos, devido à longa cadeia de atravessadores. Muito mudou a partir dos nos anos 1980, com a mobilização feminina. " Começaram a fechar a cadeado as fazendas, para não entrarmos " , lembra Francisca, referindo-se a uma época de expansão da pecuária e queda do valor de mercado do óleo vegetal, quando o babaçu deixou de ser visto como fonte de renda para os fazendeiros, antes os primeiros compradores do produto. Os conflitos resultaram na criação de assentamentos e da Associação dos Assentados (Assema), em 1989. Hoje, esta Ong congrega 60 sócios individuais e 16 organizações regionais. Atuando em 7 municípios, segundo seus coordenadores, ela atende diretamente 10 mil pessoas e, indiretamente, 35 mil. Além de apoiar a cooperativa de quebradeiras de coco, a Assema passou a mobilizar pequenos agricultores para adotarem a agricultura orgânica, associando-a ao extrativismo no mesmo pedaço de terra. Também promoveu iniciati-vas de beneficiamento do produto. Hoje, as quebradeiras de coco colocam no mercado e sabonete Babaçu Livre, carvão vegetal Cocal, farinha de babaçu Bionutri. Também produzem e vendem papel reciclado com fibras vegetais e tingido com tinturas naturais, além de alimentos orgânicos (como arroz e feijão), frutas desidratadas, compota de frutas. Os produtos são comercializados no Brasil, Estados Unidos, Inglaterra e Itália. " Antes, as mulheres quebravam 10 kg de coco, para comprar um de arroz. Com a eliminação de atravessadores, a relação é de um para um " , comemora Juranley Serejo, captador de recursos da Assema. Em média, diz ele, a renda das mulheres chega a R$ 390 mensais. Agora, as quebradeiras de coco engajaram-se na promoção da Lei do Babaçu Livre que, além de abrir os babaçuais à extração dos frutos, mesmo em terras particulares, impede a derrubada dos exemplares desta pal-meira nativa. A lei já existe em quatro municípios maranhenses. O sonho é estendê-la não só para o Estado, como para todo país.