Título: Política impacta menos a economia, diz Meirelles
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2005, Brasil, p. A3

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, reconheceu ontem que a crise política provocada pela criação da CPI dos Correios afeta o funcionamento da economia. Ele sustentou, no entanto, que as turbulências políticas impactam hoje o ambiente econômico no Brasil numa intensidade bem menor que a do passado. "É evidente que isso (a crise) é levado em consideração por todos os agentes envolvidos. Agora, o importante é que, se compararmos com períodos anteriores ou mesmo com outros países, algo que chama a atenção é como os indicadores têm se deixado influenciar pouco pela questão política", sustentou Meirelles, em entrevista. O presidente do BC se juntou ontem à comitiva presidencial. Para ele, há uma "mudança radical" em relação ao passado. "Está claro para os agentes que o Brasil já está amadurecendo no sentido de que, não necessariamente, questões políticas influenciem a economia no curto prazo." O dirigente do BC acredita que, se o governo mantiver a atual política fiscal e o Banco Central, o compromisso com as metas de inflação definidas, em 2006 a disputa das eleições não contaminará a economia. "Isso vai estar diretamente relacionado com a atitude do governo e do Brasil. Vai ficar claro para os mercados que a eleição de 2006, tal qual a de 2004, não vai afetar a economia", disse ele. Indagado sobre a possibilidade de o governo alterar a meta de inflação de 2006, fixada em 4,5%, Meirelles praticamente a descartou. "O debate é legítimo, a sociedade tem o direito de debater. Agora, as metas de 2005 e 2006 estão fixadas e em junho o CMN (Conselho Monetário Nacional) vai fixar a meta de 2007", avisou. A mudança da meta, com o objetivo de aliviar a política monetária, vem sendo defendida por integrantes do governo, como o presidente do BNDES, Guido Mantega, e o líder no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). Evitando criticar as agências de classificação de risco, Meirelles afirmou que é normal haver uma "defasagem" na avaliação que elas fazem do grau de risco oferecido pelo país. Há três dias, a Standard & Poor´s divulgou estudo afirmando que a economia brasileira permanece no grupo dos 11 países emergentes mais vulneráveis a mudanças na política monetária americana. "É evidente que as agências de rating têm uma certa defasagem (em relação à melhora dos fundamentos). É normal que tenham uma postura mais conservadora em termos de reconhecimento das melhoras. Quando se considera o histórico do Brasil, isso pode ser uma das razões", justificou ele. "Não há dúvida de que a situação do Brasil é cada dia melhor do ponto de vista econômico e que é uma questão de tempo para que isso seja reconhecido por todos os atores envolvidos", ponderou. Meirelles acha que "ainda vai demorar um pouco" até que o Brasil obtenha das agências de classificação de risco a nota máxima ("investment grade" ou grau de investimento). "Mais importante que a nota em si é a antecipação que o mercado pode fazer desse processo. O importante é quando o mercado vê o ´investment grade´ no horizonte . A partir daí, as taxas vão começar a convergir." (CR)