Título: Bradesco e Tesouro captam US$ 800 mi
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2005, Finanças, p. C3

Demanda pelos papéis do banco e do governo brasileiros ultrapassa US$ 3,28 bilhões

O Bradesco fechou ontem captação externa de US$ 300 milhões, no primeiro bônus perpétuo -sem vencimento final- do Brasil e de todos os emissores considerados de maior risco ("non investment grade"). É a primeira captação desse tipo para dívida subordinada, que entra como capital no balanço do banco, da história dos mercados emergentes. A operação inédita foi fechada um dia depois de o governo federal captar US$ 500 milhões com papéis de vencimento em 2034. "Ao lançar um bônus perpétuo, contribuímos com a boa imagem do Brasil no mercado internacional", disse o diretor do Bradesco, José Guilherme Lembi de Faria. "O mercado está cada vez mais confortável com o crédito do país, investindo em papéis de prazo mais longo", afirmou Robson Galiano, da Bear Stearns, que junto com o Deutsche liderou a captação do Tesouro. "Rendimentos em torno de 8% a 9% ao ano não são fáceis de encontrar na Ásia, Europa ou Estados Unidos", completou Augusto Urmeneta, da Merrill Lynch, que liderou a captação do Bradesco. Segundo Urmeneta, a demanda pelos títulos do Bradesco foi superior a US$ 780 milhões, com 80% dos compradores no varejo. "Fiquei surpreso com o sucesso da aceitação", disse Lembi de Faria. Segundo ele, a idéia inicial era captar US$ 200 milhões. O banco pagou 8,875% ao ano pelos papéis, que podem ser resgatados pelo Bradesco a partir do seu quinto ano de vida. Os títulos são de dívida subordinada do tipo "tier 1", que, em caso de falência, é a última a ser paga. Fica subordinada ao pagamento dos demais credores. Só os acionistas ordinários recebem depois -os preferenciais recebem junto. Se o banco não distribuir dividendos ou estiver desenquadrado no índice de Basiléia, que mede o grau de alavancagem, não é obrigado a pagar juros. Se voltar a pagar juros, não precisa pagar os anteriores. Se alguma perda impactar o patrimônio do banco, os detentores dos papéis perdem. Segundo Lembi de Faria, o Bradesco acredita na continuidade da expansão do crédito no país e está ampliando seu capital antecipadamente de forma a poder ampliar o volume de empréstimos. O índice de Basiléia do banco sobe de 15% para 16%, explica ele, sem que os acionistas tenham seu capital diluído. De acordo com Lembi de Faria, o Banco Central ainda não tem pronta a regulamentação que permite o uso de bônus perpétuos para "tier 1", mas, como o mercado estava propício, resolveu lançar mesmo assim os papéis. "Colocamos uma cláusula nos títulos que permite sua adaptação às regras do BC sem precisar falar com seus detentores", explicou. Já a demanda pelos papéis do governo brasileiro chegou a mais de US$ 2,5 bilhões e foi "extremamente diversificada", com fundos de pensão, fundos mútuos, seguradoras, bancos privados e fundos de hedge entre os investidores, contou Galiano. Segundo ele, a alocação foi "bastante pulverizada", com nenhum investidor recebendo mais do que 4% do emitido. Os papéis saíram na maior faixa de preço proposta, 94,125% do valor de face, o que corresponde ao rendimento de 8,814% ao ano. Faltam US$ 600 milhões para o Tesouro completar seu plano de captações externas neste ano. A administradora de recursos Pimco não comprou o título lançado pelo governo brasileiro. Mas, segundo o diretor Mohamed El-Erian, o problema foi a "maneira com que a oferta foi conduzida pelos bancos de investimento". El-Erian diz que a Pimco "mantém uma visão positiva em relação ao Brasil e continua aumentando sua exposição ao país".