Título: Setor de serviços da UE duvida de acordo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2004, Brasil, p. A-3

Apesar de ser um dos setores que mais tem a ganhar com a liberalização do comércio entre Mercosul e União Européia, os prestadores de serviços europeus estão pessimistas e duvidam que seja possível concluir o acordo até o fim do mês. "Algo adicional tem que ser colocado na mesa", disse, em entrevista ao Valor, Pascal Kerneis, diretor-executivo do Fórum Europeu de Serviços. Para o representante do setor privado europeu, o encontro que acontece amanhã, em Lisboa, entre os ministros de Relações Exteriores do Mercosul e o comissário de Comércio da UE, Pascal Lamy, é "difícil" e talvez seja "tarde demais". "A não ser que haja uma revolução no bolso do ministro Celso Amorim", ressaltou. Pode ser, no entanto, que as concessões que estão sendo preparadas pelo Mercosul acabem agradando os europeus. Kerneis considera a atual oferta do Sul na área de serviços "insuficiente" e afirma que é preciso novas concessões em pelo menos duas áreas: resseguros e transporte marítimo - exatamente os setores que estão sendo avaliados pelo bloco do Cone Sul. "Precisamos de melhoras em resseguros e transporte marítimo. É onde o dinheiro está", disse Kerneis, que participou ontem de seminário organizado pela Prospectiva e estará hoje em evento do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). Os europeus querem a abertura do mercado de resseguros e a garantia de livre circulação dentro do Mercosul para o transporte marítimo. A UE também está interessada em maior liberalização em serviços financeiros e telecomunicações. Só que nesse caso a urgência parece ser menor. Segundo Kerneis, não há ganho efetivo no caso de telecomunicações, pois os mercados de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai já são abertos. Na avaliação do especialista, se não for fechado um acordo agora, será preciso esperar até o fim da Rodada Doha. "Não vejo porque começar de novo. Nada será inventado. Agora é uma questão de vontade política", disse Kerneis. O Fórum de Serviços Europeu é composto por 44 federações de serviços e 38 multinacionais do setor, como Barclays Bank, Telefonica ou Royal Ahold. O Brasil é o 13º parceiro comercial da UE na área de serviços, importando 3,35 bilhões de euros por ano do bloco europeu e exportando 3,1 bilhões. (RL)