Título: Projeto de poder separa PT e PSDB
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2004, Política, p. A-5

Parece mentira, mas não é: o PT e o PSDB estiveram juntos em 406 disputas municipais. Isso representa mais de 7% do total de municípios brasileiros. O partido do governo apoiou 275 candidatos tucanos em todo o país. O PSDB, por sua vez, fez o mesmo pelos petistas em 131 cidades. No segundo turno da eleição em Teresina, o PT apóia Firmino Sampaio, do PSDB, contra Adalgisa Souza, mulher do ex-governador Mão Santa e candidata de um partido da base aliada ao governo (o PMDB). Em Goiânia, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu apoio ao governador tucano Marconi Perillo para o candidato do PT, Pedro Wilson. O Estado onde o PT e o PSDB mais se encontraram foi Minas Gerais. Lá, os apoios de um e de outro aconteceram em 84 municípios, 11% do total. Os petistas fizeram fé pelos tucanos em 49 cidades. Os tucanos retribuíram a gentileza em 35. "Ao contrário do preconceito do PSDB, o PT está sendo muito mais flexível com os tucanos", fustiga o presidente do PT, José Genoino. Antes de mostrar uma tendência política, os apoios mútuos de PT e PSDB são coisas da política brasileira. Separados por um projeto de poder, as duas siglas querem mesmo é rivalizar. Para as eleições de 2004, a demarcação do terreno foi feita pelo ministro da Casa Civil, José Dirceu, no início do ano, quando o presidente Lula, preocupado com a governabilidade pós-escândalo Waldomiro Diniz, ensaiava uma aproximação com o PSDB. No dia da eleição em primeiro turno, antes mesmo que os votos fossem contabilizados, Dirceu reforçou a tese da polarização, atacando os tucanos com adjetivos pejorativos. Quando faz declarações, o ministro fala à militância do PT, afinal, ele é o dirigente máximo do partido dentro do governo Lula. No governo e no PT há vozes que discordam dessa opção. Há quem acredite que faz mais sentido dialogar com o PSDB do que com o PP, o PTB e até mesmo o PMDB, três partidos que nada têm em comum com a história do PT. Assim como havia entre os tucanos, há dez anos, quem não considerasse meritória a aliança com o PFL. De fato, PT e PSDB têm hoje mais pontos em comum do que quaisquer outras siglas partidárias. Os petistas odeiam admitir isso, mas o governo do PT, até agora, não trouxe uma inovação sequer aos oito anos de FHC. A agenda - liberalizante em sua essência - foi adotada sem embaraço, apesar do viés estatizante de setores do governo que, definitivamente, não têm prevalecido. O prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, reeleito com mais de 60% dos votos, defende a busca de um diálogo com os tucanos. Curiosamente, Pimentel é a face mais viva do novo PT, aquele que emerge das urnas vitorioso fora de São Paulo, berço do partido e onde, aliás, a sigla colheu as principais derrotas deste ano e perdeu o páreo para o PSDB.

PT e tucanos trocaram apoios em 406 cidades

"Lutei por isso (a aliança entre as duas siglas) em 1993 e 1994. A História resolveu isso", resigna-se Genoino, partidário hoje da polarização. "O PSDB é que tomou a iniciativa de partir para uma ação sectária. Uma aproximação é algo muito distante. Nada é impossível, mas agora existem dois projetos políticos: o do PT e o do PSDB." Paralisia atrasa apreciação do orçamento A paralisação do Congresso é tão evidente que a aprovação do Orçamento Geral da União de 2005 pode ficar para o próximo ano. Hoje, o presidente da Comissão Mista de Orçamento, deputado Paulo Bernardo (PT-PR), tenta reunir os representantes dos partidos para tratar do assunto. A Comissão não tem como funcionar porque, até agora, não foi aprovada a resolução que fixa as regras de seu funcionamento. Com longa experiência nessa área, Bernardo quer inovar os procedimentos da Comissão para torná-la mais célere e democrática. A primeira tentativa, que seria a aprovação da resolução com as novas regras, fracassou. A mudança mais polêmica seria a redução, de até 23 para dez, no número de emendas a serem apresentadas pelas bancadas estaduais. A proposta acaba também com a possibilidade de os senadores, dos Estados com mais de 18 parlamentares, apresentarem mais três emendas "de caráter estruturante". Extingue também as emendas de bancadas "regionais". A nova resolução estabelece ainda que, por maioria absoluta, a Comissão pode encurtar os prazos para acelerar a apreciação da lei orçamentária. O óbice está justamente na obtenção de maioria entre os 84 integrantes. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), tem poderes para baixar uma resolução fixando as regras de funcionamento, mas ele não faria isso sem um aceno favorável dos líderes dos partidos. O acordo que Paulo Bernardo tentará amarrar hoje é para colocar a Comissão funcionando pelo menos a partir do dia 3 de novembro. A corrida agora é contra o relógio. Legalmente, os parlamentares têm 45 dias, contados a partir do início do funcionamento da Comissão, para apresentar emendas. As sub-comissões gastam, em média, dez dias para analisar as milhares de emendas. O problema é que, até o fim do ano, haverá feriados a mancheias .