Título: Frankenstein na chapa em Goiás
Autor: Iunes, Ivan; Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 04/04/2010, Política, p. 4

eleições

Desistência de Henrique Meirelles pode resultar em aliança estranha no estado, unindo PMDB e PT aos democratas

A saída de cena do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (PMDB), das eleições em Goiás pode facilitar uma aliança até então improvável, mesmo para os analistas políticos mais criativos. Sem o chefe do BC no páreo por uma cadeira no Senado, o DEM, do senador Demostenes Torres e do deputado federal Ronaldo Caiado, pode desembarcar na aliança PMDB-PT, formando o maior Frankenstein político das eleições de outubro. Ferrenhos opositores do governo federal, Demostenes e Caiado tentam dobrar a norma editada pelo próprio partido que proíbe alianças regionais com os petistas. O namoro tem chance de ganhar corpo especialmente porque a cabeça de chapa ao governo do estado será do ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende (PMDB). Sem o PT no posto principal da aliança, o DEM nacional faria vista grossa às negociações e ficaria com uma das vagas ao Senado. O flerte entre DEM e PMDB-PT teve início devido à dificuldade em resolver as desavenças de Caiado com figuras-chave do tucanato goiano. O PSDB irá para as eleições de outubro com o senador Marconi Perillo como candidato a governador e a senadora Lúcia Vânia (PSDB) tentando a reeleição. Enquanto Meirelles esteve no páreo, não havia espaço na aliança PMDB-PT para outro candidato a senador, já que o deputado federal Sandro Mabel (PR) e o atual governador, Alcides Rodrigues (PP), mantêm a luneta direcionada para o Senado ¿ e cobram a garantia da legenda para fechar uma aliança. Sem o presidente do Banco Central, a chapa poderia ceder espaço para que Demostenes tentasse a reeleição ao Senado. ¿Não tem constrangimento se o meu companheiro de chapa for um petista. São peculiaridades do estado. O DEM é assediado porque tem dois minutos de televisão e nomes de crédito. O nosso apoio pode definir a eleição¿, justificou Demostenes.

Palanque A debandada do DEM rumo ao palanque de Iris Rezende seria um duro golpe na campanha de Marconi Perillo, que tenta retornar ao governo estadual depois de quatro anos no Senado. A última pesquisa do Ibope para governador em Goiás, publicada em fevereiro, trouxe o tucano com 45% das intenções de voto, contra 39% de Iris, praticamente em empate técnico ¿ a margem de erro do levantamento é de 3%. Em uma cena até bem pouco tempo um tanto improvável quanto inusitada, Demostenes e Caiado poderiam subir no palanque nacional de Dilma Rousseff (PT), caso fechem com a aliança PMDB-PT. O deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), ex-presidente da sigla, no entanto, desdenha dessa possibilidade. ¿Seria estranho uma aliança como essa, não vejo como o DEM estar junto nesse palanque, mas veja como o mundo dá voltas¿, ironizou. Enquanto flerta com o DEM, a aliança PMDB-PT também tenta atrair o apoio do atual governador, Alcides Rodrigues, que foi vice de Marconi Perillo no governo estadual entre 1999 e 2006. As boas relações de Rodrigues com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, facilitam o diálogo para um acordo em Goiás.

Seria estranho uma aliança como essa, não vejo como o DEM estar junto nesse palanque, mas veja como o mundo dá voltas¿