Título: À sombra de Severino, PP cresce na Câmara e estréia no Senado
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 30/05/2005, Política, p. A6

A influência da vitória de Severino Cavalcanti sobre o futuro do PP já é notada. O partido conta agora com seu primeiro senador, Valmir Amaral (DF), ex-PMDB. A legenda passou a viver uma boa fase depois de assumir a presidência da Câmara. Quarta maior bancada de deputados, o PP quer crescer no Senado e está finalizando a filiação de outros três senadores, além de Amaral. "Isso nos dá musculatura, estaremos fortes para decidir apoios em 2006", disse o líder do partido na Câmara, José Janene (PR). Esse crescimento pode aumentar a importância do PP no jogo eleitoral de 2006. Além de Amaral, os pemedebistas capixabas Gerson Camata e João Batista Motta estão finalizando o acerto com o PP. O nome do terceiro senador em negociação ainda não vazou. Motta já anunciou em um discurso no plenário da Casa que abandonará o PMDB, seguindo Camata - seu padrinho político -, para onde ele for. Pelo acordo, pré-finalizado há duas semanas em um café da manhã na casa de Janene, ficou acertado que Camata assumiria a liderança da bancada no Senado. Valmir Amaral já está oficialmente no partido e herdou a presidência da sigla na capital federal, onde deverá tentar o governo em 2006. Ainda há disputas pela legenda em Brasília, porém um acordo está sendo negociado, embora exista a possibilidade de intervenção no PP local para garantir espaço ao senador. O PP ainda tem a expectativa de filiar mais três senadores até 30 de setembro, prazo final para se associar a uma legenda para disputar das eleições de 2006. Lúcia Vânia (PSDB-GO) é uma das senadoras que estudam a possibilidade de ir para o partido de Severino. Ela tem evitado tratar do assunto publicamente. Essas outras filiações estão mais na fase de especulação, como admite o próprio líder do PP. O aumento de bancada do PP também ocorreu na Câmara: em janeiro de 2003 o partido tinha 43 deputados federais, onze a menos que atualmente. O último deputado, João Tota (ex- PL-AC), filiou-se na terça-feira e colocou o partido na posição de quarta maior bancada da Casa, atrás do PT (91 deputados), PMDB (85) e PFL (62). Com quatro senadores, o PP será a quinta maior bancada da Casa, atrás do PMDB (hoje com 22), PFL (16), PSDB (13), PT (13) e empatado com o PDT (4). O quadro geral tende a mudar mais, já que além das mudanças para o PP, outras alterações estão em curso no Senado: o senador Mão Santa (PMDB-PI) deve abandonar o partido. Patrícia Saboya, do PPS, deve acompanhar o grupo liderado por Ciro Gomes na saída do partido. "Estamos crescendo muito, teremos muito mais candidatos a governadores e senadores que nas últimas eleições", afirmou Janene. O líder do PP afirma que, a princípio, o partido deverá ter candidato próprio ao governo de ao menos onze Estados, de todas as cinco regiões do país. "Estamos analisando quadros de todos os Estados, promovendo filiações, fortalecendo o partido que está realizando diversos encontros regionais", disse. Janene acredita que a bancada no Senado vai dar mais peso para a busca de alianças em 2006. "Atualmente não estamos no governo pois não temos nenhum cargo de primeiro escalão, apenas apoiamos o governo, o que nos dá liberdade de movimentação", disse. O líder não descarta apoio ao projeto de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006, mas afirma que essa possibilidade não está fechada automaticamente, ainda mais com o o fim da verticalização de alianças. "Já falei isso para a coordenação do governo: só apoiaremos Lula se estivermos satisfeitos com o governo", disse. Ele afirmou ainda que seu partido é um dos mais coerentes no atual governo. "Não mudamos de posição estamos no governo Lula apoiando todas as teses que defendíamos nos oito anos do governo Fernando Henrique", afirmou. Um passo na aliança com Lula, no entanto, foi dado na adoção de não apoiar a criação da CPI dos Correios. Em sua avaliação, a relação está boa entre PP e governo - principalmente após os últimos entendimentos entre Lula e Severino -, "mas se o governo quer um apoio mais efetivo terá que nos tratar melhor, atender a algumas de nossas demandas", disse. Janene afirma que entre estas demandas está uma maior atenção dos ministros aos deputados da sigla. O PMDB, que pode ser o maior prejudicado com estas mudanças, não teme a debandada de senadores. "Esse movimento é natural, em todo ano pré-eleitoral a movimentação é muito grande", afirmou o líder do partido na Casa, Ney Suassuna (PB). Em 2001, vésperas das últimas eleições gerais, dezessete senadores trocaram de partido. No ano passado somente dois parlamentares trocaram de sigla, mesmo número de mudanças que já ocorreram em 2005. Para Suassuna, essas mudanças são motivadas pelos palanques estaduais e não por troca de ideologia ou posição em relação ao governo. O senador contabiliza que dos atuais 22 senadores do PMDB, 9 devem tentar governos estaduais e 11 concorrerão à reeleição ao Senado.