Título: PF acusa deputado de recusar revista
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2004, Política, p. A-6

Uma carteirada do deputado federal José Mentor (PT-SP) virou problema de Estado e tramita entre gabinetes do Congresso e do governo há cinco meses. Relatório elaborado pela Polícia Federal acusa o petista de se recusar a submeter-se a revista pessoal na área de embarque do aeroporto de São José dos Pinhais (PR). Mentor encaminhava-se para a sala de embarque no dia 29 de maio. A descrição do relatório elaborado pelos agentes da PF de plantão detalha a carteirada, prática na qual uma autoridade se recusa a passar pelos mesmos ritos de cidadãos "comuns". "A equipe de raio X comunicou que um passageiro havia se negado a submeter-se a revista pessoal, sob alegação de que era deputado. Fomos até a sala de embarque, onde o mesmo se identificou como o deputado federal José Mentor, e que por condição de parlamentar não precisava ser revistado", diz o documento. O agente da PF esclareceu ao deputado que se tratava de procedimento de segurança. O relatório reproduz a frase que teria sido dita por Mentor em resposta à insistência dos funcionários em fazer a revista: "Podem fazer os registros que vocês quiserem, pois eu já me identifiquei e não admito passar por essa situação". No dia 13 de julho, o chefe da corregedoria regional da PF no Paraná, Hugo Martins, enviou então ofício ao presidente da Câmara, João Paulo Cunha. Queria saber se congressistas, de fato, podem se recusar a passar por detectores de metais. No documento, Martins refere-se a João Paulo como "Sr. chefe". A forma como foi tratado parece ter irritado o presidente da Casa. Ele repassou a ocorrência ao Ministério da Justiça sem responder ao delegado da PF por ter entendido "que o envio a esta Casa decorreu de equívoco". A PF recebeu o documento de volta só na semana passada, com instruções do ministério da Justiça para endereçar a reclamação contra Mentor ao corregedor geral da Câmara, o deputado Luiz Piauhylino (PTB-PE). Mentor, ouvido ontem pelo Valor, nega que tenha se recusado a passar pelo detector. Ao ouvir o apito da máquina, o deputado diz ter esclarecido ao funcionário tratar-se de um brasão de metal de sua carteira. O segurança tentou revistá-lo com o detector de metal móvel. "Ele me pediu para levantar os braços e eu disse que não havia cabimento, já que o problema era com a carteira", diz Mentor. Ele nega ter dito a frase que consta do relatório.