Título: Insatisfação de partidos aliados compromete votações no Congresso
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2004, Política, p. A-6

O governo tenta, com dificuldades, vencer a paralisia no Congresso a partir desta semana, mas os reflexos da eleição municipal ainda comprometem a sintonia na base aliada. O presidente da Câmara, João Paulo Cunha, oferece um almoço hoje aos líderes aliados e ao ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo. Sem constrangimento, os aliados admitem que há muita insatisfação nas bancadas, ou por conta da postura do governo na eleição, ou por amargarem derrotas no pleito municipal, ou, ainda, pela demorada e tardia liberação de emendas parlamentares. A oposição, por outro lado, anuncia publicamente que vai obstruir as votações. Mesmo que os deputados consigam votar algumas medidas provisórias nesta semana, a pauta permanecerá congestionada. No Senado, a expectativa é que o diretor de Política Monetária, Rodrigo Azevedo, seja sabatinado hoje na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Em seguida, será realizada na CAE uma audiência pública para discutir o projeto de lei que cria normas para as Parcerias Público-Privadas (PPPs). O presidente do Senado, José Sarney, a pedido do ministro José Dirceu (Casa Civil) pretende agilizar a votação de nomeações de autoridades no plenário. A principal seria a de Azevedo, mas há nomeações do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Agência Nacional de Águas (ANA) que precisam ser apreciadas. A disputa eleitoral em 44 cidades é obstáculo para a base se entender. O PMDB, por exemplo, está contra o PT no Rio Grande do Sul. A suposta neutralidade dos pemedebistas em São Paulo irrita vários parlamentares, que consideram como conseqüência natural o esvaziamento do partido na capital e no Estado. Há ainda problemas em Goiânia, onde o partido disputa o segundo turno com o PT e o Palácio do Planalto conseguiu o apoio do governador tucano ao candidato petista. "Não acredito que essas feridas das eleições já tenham sido cicatrizadas", disse o líder do PPS, deputado Júlio Delgado (MG). "É preciso afinar toda essa orquestra, mas dando atenção do piano ao pratinho", comparou. Até sexta-feira, 19 medidas provisórias trancam a pauta da Câmara. Levantamento da presidência da Casa mostra que, até o fim de novembro, 32 MPs estarão impedindo o andamento do trabalho. Tanto João Paulo quanto Sarney têm protestado freqüentemente contra o excesso de medidas provisórias. "O instrumento das MPs está fadado a ser revisto", afirmou Sarney. "Continuamos em obstrução. Quem tem obrigação de colocar maioria no plenário e votar essas MPs é o governo, e não a oposição", disse o líder do PFL, José Carlos Aleluia (BA). Segundo o parlamentar, o governo edita medidas provisórias "aventureiras", sem nenhuma urgência ou relevância. Além disso, ressalta ele, o governo impede que os presidentes do Banco Central, Henrique Meirelles, e do Banco do Brasil, Cássio Casseb, esclareçam suas movimentações financeiras. "Não há diálogo com esse governo. Pra completar, ainda usam o Palácio do Planalto para fazer campanha eleitoral", criticou Aleluia. (MLD)