Título: Planalto traça alianças para reeleição de Lula
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2004, Política, p. A-6

O comando político do governo já começa a traçar a sua estratégia nas disputas estaduais em 2006 de forma a fortalecer as alianças para a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e fomentar dissensões entre os adversários. Dentro desta estratégia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Ceará são Estados centrais. Em Minas, a idéia é buscar a repetição do quadro de 2002, em que Aécio Neves (PSDB) ganhou a eleição com relativa facilidade, depois que o então governador Itamar Franco - um aliado da candidatura de Lula contra a do tucano José Serra - desistiu de tentar se reeleger e o apoiou. Tolhida pelo apoio de Itamar a Aécio, a campanha de Serra em Minas foi discreta e o PT venceu com larga margem no Estado. Desta vez, o que se pretende é convencer os seis potenciais candidatos governistas que ameaçariam Aécio, como o prefeito reeleito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, e o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, dentro do PT, o vice-presidente José Alencar e o vice-governador Clésio Andrade, no PL, o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, e o ex-presidente e ex-governador Itamar Franco, no PMDB, a deixarem livre o caminho para o atual governador tentar um novo mandato. Em troca, tentaria-se conseguir de Aécio uma participação apenas burocrática na campanha presidencial tucana. Por este raciocínio, o governador mineiro não deixaria de se beneficiar com uma eventual derrota do PSDB na eleição presidencial de 2006, já que assim poderia se apresentar como presidenciável quatro anos mais tarde. Estrategistas do Planalto pensam que a situação política de Tasso Jereissati no Ceará ficou definitivamente comprometida com o resultado do primeiro turno da eleição em Fortaleza, fragilizando uma eventual candidatura presidencial do cearense. Mas o governismo no Estado está dividido para enfrentar a candidatura à reeleição de Lúcio Alcântara (PSDB). Uma possibilidade é a da candidatura do prefeito de Sobral, Cid Gomes (PPS), com o apoio do ministro das Comunicações, Eunício Oliveira (PMDB), que também deseja ser candidato. A ala esquerda do PT, contudo, ficará fortalecida caso Luizianne Lins vença a eleição na capital e provavelmente apresentará candidato próprio para o governo do Estado. A transferência do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, do Ceará para o Rio de Janeiro e do PPS para o PTB já é dada como absolutamente certa. A missão de Ciro seria ameaçar a permanência no poder do grupo comandado pelo ex-governador Anthony Garotinho e sua mulher, a governadora Rosinha (PMDB). Garotinho sonha com a presidência concorrendo por um partido de oposição, mas teria dificuldade de fazê-lo com um forte candidato contra si no Rio. A situação de Garotinho e Rosinha fica ainda mais delicada porque não podem exercer a opção de concorrer a um novo mandato ao governo estadual. A situação jurídica de ambos é duvidosa. Um acórdão da Justiça Eleitoral de 2002 opinou que, em caso de um cônjuge suceder a outro, torna-se inelegível para o mandato seguinte e nem pode ser sucedido pelo antecessor. É exatamente a situação do casal de políticos fluminenses. Garotinho foi eleito em 1998 e Rosinha em 2002. A situação dos governistas torna-se complexa em São Paulo, caso se confirme a possível derrota da prefeita de São Paulo e candidata à reeleição Marta Suplicy. Aliados da prefeita afirmam que ela tentaria concorrer ao governo do Estado nesta hipótese, aumentando a disputa interna no PT. Atualmente, há dois pré-candidatos, o senador Aloizio Mercadante e o presidente da Câmara, João Paulo Cunha, sendo que a cúpula do partido prefere o primeiro. O clima de disputa no PT, aliás uma tradição do partido no Estado, dificulta a negociação de alianças com as outras forças políticas aliadas.