Título: BID paga conta da paralisia da Alca
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 30/05/2005, Especial, p. A12

A paralisação das negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) criou problemas para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que financiou a estrutura montada para as negociações. Não há nenhuma previsão de quando Estados Unidos e Brasil farão a próxima reunião para tentar retomar a negociação. A reunião que estava marcada para 12 de maio foi adiada a pedido dos Estados Unidos, e não há nenhuma notícia de quando as conversas serão retomadas. Há mais de um ano e meio Brasil e EUA interromperam as negociações envolvendo os 34 países do hemisfério para tentar solucionar entre os co-presidentes do acordo as principais divergências, mas não houve avanços. Diversas reuniões entre brasileiros e americanos não permitiram um avanço. Em nenhum momento, entretanto, os dois países assumiram o fim do processo de negociação, o que deixa em situação delicada a estrutura criada para apoiar os negociadores na cidade mexicana de Puebla. Oficialmente, a reunião do Comitê de Negociação Comercial (CNC) de Puebla está interrompida, mas pode ser retomada. Numa carta em abril, o BID cobrou dos EUA e do Brasil uma definição sobre as negociações e sobre o financiamento do secretariado da Alca, localizado em Puebla, a partir de 2005. Se não houver perspectiva de uma nova reunião do CNC, o secretariado perde sua função. O banco liberou US$ 218,5 mil que deveriam ser usados até o fim de 2004. Segundo a assessoria do BID, o secretariado reduziu despesas e o dinheiro deve ser suficiente para manter as atividades até a metade deste ano. Com as negociações mais abrangentes paralisadas, a única função do secretariado é informar os outros países das conversas entre os co-presidentes. O Brasil e EUA fizeram novo pedido para financiamento do secretariado, que será analisado na próxima reunião de diretoria do BID. Outra verba do BID ligada à Alca continua sendo desembolsada: US$ 750 mil para "suporte técnico" das negociações, concedida em agosto do ano passado. Segundo a assessoria do banco, esse contrato foi feito já levando em consideração as dificuldades na negociação, e por isso continha uma cláusula prevendo eventual paralisação. Os assessores agora dão consultoria aos países latino-americanos em outros assuntos relacionados ao comércio, seja em outras negociações comerciais ou na elaboração de estudos comparativos. Mas se as negociações da Alca forem oficialmente abandonadas, não está claro o que ocorrerá com o contrato de cooperação técnica.