Título: Real em alta faz crescer o valor relativo de companhia brasileira
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 30/05/2005, Empresas &, p. B1

Petrobras avançou 345% desde crise de 2002 e vale mais que Ford e GM juntas

O fortalecimento do real -de 11,33% só neste ano- aliado à melhor percepção do Brasil por parte do investidor internacional fez o valor de mercado em dólar das principais empresas abertas brasileiras crescer mais de 300% em dois anos e meio, muito mais do que a valorização registrada pelas principais empresas americanas. Com isso, o valor relativo das companhias abertas brasileiras em relação às americanas foi alterado, criando situações curiosas que ajudam a atrair o investimento estrangeiro às emissões primárias e ao mercado secundário de ações no Brasil, alimentando novas valorizações da Bolsa de Valores de São Paulo. A empresa de maior valor de mercado do Brasil, a Petrobras, vale atualmente mais do que as duas maiores montadoras americanas juntas, a Ford e a General Motors, segundo notou o presidente da Goldman Sachs no Brasil, Ricardo Lacerda. Hoje as duas empresas americanas, em situação difícil, têm valor de mercado de US$ 36,344 bilhões, enquanto a Petrobras vale US$ 43,964 bilhões, segundo cálculo feito pela consultoria Economática. A situação era bem diferente em outubro de 2002, no auge da crise eleitoral brasileira, no entanto, quando a petrolífera brasileira valia cerca de um terço das duas americanas -US$ 9,87 bilhões, na comparação com os US$ 33,921 bilhões da Ford e da GM juntas, ainda segundo a Economática. Enquanto a Petrobras teve valorização de 345% de 16 de outubro de 2002 a 20 de maio de 2005, a Ford e a GM juntas viram seu valor de mercado crescer apenas 7,1% no período. É verdade que a Ford e a GM têm enfrentado sérios problemas, com dívidas que passam os US$ 400 bilhões e com a crescente e bem-sucedida concorrência das montadoras japonesas, enquanto o setor de petróleo ganhou importância devido à alta de preços recente. Mas, também na comparação com uma empresa americana do mesmo setor que a Petrobras, a Occidental Petrol, a brasileira conseguiu ganhar muito mais valor de mercado no período -345% da Petrobras, em relação aos 126,9% da Occidental Petrol. Com isso, a Petrobras, que valia 17% a menos do que a pequena Occidental em 2002, hoje vale 63% a mais. Em 16 de outubro de 2002, a Petrobras valia US$ 9,87 bilhões, na comparação com os US$ 11,9 bilhões da americana. No dia 20 de maio, a petrolífera brasileira passou a US$ 43,964 bilhões, na comparação com os US$ 27 bilhões da Occidental. "É esse tipo de comparação de valor de mercado que o investidor internacional faz antes de aplicar seu dinheiro em um país ou outro", comenta Lacerda. A segunda empresa em valor de mercado no país, a Companhia Vale do Rio Doce, que valia US$ 8,183 bilhões em 16 de outubro de 2002, ou menos da metade dos US$ 18,463 bilhões da Alcoa, tem hoje valor de US$ 27 bilhões, superior aos US$ 23,9 bi da Alcoa, maior produtora de alumínio do mundo. A valorização da Vale foi de 230% no período, na comparação com os 29% da Alcoa. O Itaú, a terceira maior empresa brasileira em valor de mercado, teve valorização de nada menos que 487% em dólar em dois anos e meio. A holding financeira, que valia em 16 de outubro de 2002 US$ 3,368 bilhões, foi para US$ 19,725 bilhões no dia 20 de maio último. Na comparação com a Ford e a GM, em 2002 o Itaú valia 77% e 82,5% a menos e hoje vale 11,47% e 6% a mais. Quando são considerados os últimos 12 meses, a mesma tendência se verifica. No dia 20 de maio de 2004, a Petrobras valia menos do que a Motorola, o McDonald's e a Caterpillar. Hoje, a maior empresa do país ultrapassou todas essas companhias em valor de mercado, segundo a Economática. A Petrobras teve valorização de 84% nos 12 meses terminados em 20 de maio, enquanto a Vale do Rio Doce ganhou 77% em valor de mercado e o Itaú, 124%. Para comparação, a Occidental Petrol teve valorização de 50%, o McDonald's, de 22,24%, e a Caterpillar, de 29,6%. A queda no valor de mercado da Motorola foi de 10% no período. Segundo Lacerda, o fortalecimento do valor de mercado em dólar das brasileiras, desbancando gigantes americanas, é determinante para atrair o estrangeiro para a compra de ações de empresas brasileiras no mercado primário e também secundário. Ricardo Lanfranchi, diretor responsável pela corretora da Merrill Lynch, concorda e acrescenta que a valorização do real, que não parece preocupar o Banco Central, tem sido forte o suficiente para mais do que compensar a queda no mercado de ações em reais neste ano. "Mesmo que o mercado ande de lado, se o real continuar a se fortalecer, o valor da carteira de ações brasileiras do estrangeiro se valoriza", lembra ele. Por isso, apesar da queda mais recente na Bolsa de Valores de São Paulo, o estrangeiro acaba sustentando o mercado de ações, com vendas pequenas. Os números comprovam o que diz Lanfranchi. Até o dia 25 de maio último, o Índice Bovespa, das ações mais negociadas em São Paulo, caiu 6,56% em reais, mas subiu 2,85% em dólar, na comparação com a queda de 3,02% no Dow Jones, índice das ações mais negociadas em Nova York. Em doze meses terminados no dia 25, o Ibovespa subiu 29,79% em reais, mas 69,95% em dólares, na comparação com a alta de 3,36% do Dow Jones. Segundo Lanfranchi, a fraqueza conjuntural do dólar, por causa dos déficits gêmeos americanos -comercial e fiscal-, aliada aos juros altos no Brasil tem feito o real se fortalecer mais do que as outras moedas. "O nível de aversão ao risco internacional permanece historicamente baixo, a venda de commodities continua firme e forte e sobra estrangeiros querendo investir aqui", afirma. Segundo ele, a percepção é de que, apesar de toda a valorização, a Bolsa brasileira ainda é uma das mais baratas do mundo.