Título: Tombos de safra e renda param mercado gaúcho
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 30/05/2005, Agronegócios, p. B14

Abatido por duas safras seguidas de estiagens e descapitalização dos produtores gaúchos de grãos, o mercado de terras no Rio Grande do Sul vive insistente ressaca após a euforia vivida com a supersafra de 9,5 milhões de toneladas colhida na temporada 2002/03. Os negócios estão quase paralisados, e, quando ocorrem, são fechados por preços muito inferiores aos de dois anos atrás. "Não temos conhecimento de negócios em região alguma do Estado nos últimos dois meses", afirma o presidente da comissão de grãos da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, Jorge Rodrigues. Segundo ele, no ano passado, quando a safra 2003/04 já havia caído para 5,5 milhões de toneladas, os bons preços internacionais da soja ainda garantiram algum fôlego para aquisições de novas áreas. Agora, com a colheita de apenas 2,3 milhões de toneladas preços mais baixos, não há oferta porque os produtores simplesmente não têm recursos para comprar terras, explica o dirigente. De acordo com Rodrigues, no ano passado os preços no Estado giravam em torno de R$ 10 mil por hectare pronto para o plantio na região da soja, de R$ 8 mil nas áreas de arroz e de R$ 3 mil a R$ 4 mil nas de pecuária. "Como hoje não existem negócios, não tem preço", afirma. Conforme João Picoli, presidente do Sindicato Rural de Erechim (norte do Estado), até junho de 2004 o hectare era vendido pelo equivalente a 400 sacas de soja na região. Agora, já se fala em 200 sacas, mesmo patamar de antes da euforia de 2003. Mas mesmo assim "está tudo parado". Na região de Erechim, a quebra da safra de soja passou de 70% e os produtores estão mais preocupados em rolar as dívidas com fornecedores, bancos e cooperativas do que em ampliar áreas de plantio. E Picoli acredita que os preços das terras poderão continuar caindo, porque a quebra deste ano pode levar muitos agricultores a desistir da lavoura. Em Santo Ângelo (noroeste gaúcho), onde a quebra da safra de soja superou 90%, os negócios também estão paralisados porque os produtores estão sem capital de giro, explica o diretor do sindicato rural do município, Lori Meotti. Para não dizer que nada aconteceu, ele tem conhecimento de um negócio fechado recentemente envolvendo uma área de 86 hectares. No ano passado, o proprietário pedia 350 sacas de soja por hectare pela gleba. Vendeu por R$ 180.