Título: De olho na atividade e na inflação corrente
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 30/05/2005, Finanças, p. C2

Todas as atenções dos integrantes do mercado financeiro estarão voltadas, nesta semana, para o nível de atividade econômica no primeiro trimestre -os dados sobre o Produto Interno Bruto que serão divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) amanhã. A variação no PIB e os números sobre a inflação serão determinantes para definir se o Banco Central vai ou não subir de novo as taxas de juros básicas Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de junho, segundo os especialistas do mercado financeiro. Os departamentos econômicos de bancos como o WestLB e o BNP Paribas continuam a apostar que os aumentos chegaram ao fim. Mas ninguém descarta uma nova alta de 0,25 ponto básico, para 20% ao ano, depois da ata do Copom divulgada na sexta-feira. "Mesmo quem acredita na estabilidade em junho passou a apostar após a ata que as taxas vão demorar mais para cair", disse Nicolas Tingas, economista do WestLB. Na ata, o BC deixou claro que não corrobora com a visão de muitos analistas, de desaquecimento acentuado na economia, diz o Departamento de Economia do Bradesco. "O BC está muito confiante no cenário de crescimento", segundo Alexandre Lintz, estrategista-chefe do BNP Paribas. "Essa visão da autoridade monetária indica que, com os números disponíveis até agora, preocupações com o crescimento econômico não serão um empecilho para novas altas de juros no futuro", avaliou Lintz. A ata sugere que a visão do BC sobre atividade econômica é mais positiva do que a da maior parte do mercado, concorda Adauto Lima, economista do WestLB. Não é à toa que, na sexta-feira, quando foi divulgada, a ata do Copom levou a uma queda de mais 1% do dólar, quebrando a barreira dos R$ 2,40 e indo a R$ 2,384, um novo recorde -seu menor nível desde 30 de abril de 2002. Com juros em alta, os investimentos em reais se tornam mais atrativos do que já são e as posições compradas em dólar se tornam mais caras, ainda mais em um cenário de maior calmaria internacional, com perspectiva de aumento gradual nos juros americanos e inflação ao consumidor dos EUA sob controle, como mostrou o último CPI, afastando o receito de "estagflação".

Dólar abaixo de R$ 2,40 pode testar novo limite

Os números sobre a inflação corrente -principalmente o IPCA de maio, que será divulgado em 10 de junho- também serão determinantes na decisão do BC, acreditam os especialistas. Para Lima, o Copom está claramente preocupado com a inflação inercial e deixou aberta a porta para novos aumentos de juros. Ele espera, no entanto, que o IPCA de maio caia para 0,49%, na comparação com o 0,87% de abril, e que o núcleo de inflação seja reduzido de 0,7% para 0,6% -por isso aposta na estabilidade dos juros na próxima reunião do Copom. A CPI dos Correios parece não preocupar muito os investidores. Conforme notou acertadamente o economista-chefe do Modal Asset, Alexandre Póvoa, o mais interessante dos escândalos de corrupção que culminaram na CPI tem sido a sua baixa repercussão nos mercados. A Bolsa de Valores de São Paulo chegou a sofrer um pouco, mas subiu 1,66% na semana na qual a CPI foi instalada. Para o mercado, de acordo com Póvoa, o importante é o "tripé câmbio flutuante, responsabilidade fiscal e política monetária definida por critérios técnicos". Esse tripé não parece ameaçado mesmo se o governo atual tivesse problemas eleitorais em 2006, visto que o principal partido adversário do PT nas eleições, o PSDB, não iria propor mudanças. "Excetuando-se uma situação onde algo realmente grave seja descoberto e ameace a governabilidade, o efeito de qualquer CPI hoje nos mercados é limitado", diz Póvoa.