Título: Copom pode voltar a elevar os juros em junho
Autor: Mônica Izaguirre
Fonte: Valor Econômico, 30/05/2005, Finanças, p. C2

O Comitê de Política Monetária do Banco Central poderá promover, em junho, novo aumento da taxa básica de juros, atualmente em 19,75% ao ano. O aviso de que ainda não se pode dar por encerrada a série de elevações iniciada em setembro está tacitamente incluído na ata da última reunião do comitê, divulgada na sexta-feira. "É necessário que a autoridade monetária esteja pronta a adequar às circunstâncias o ritmo e a magnitude do processo de ajuste da taxa de juros básica, caso venham a exacerbar-se os fatores de risco", diz o documento. Em outro sinal de que não se descarta nova alta, a ata ainda defende que a política monetária mantenha-se "especialmente vigilante para evitar que pressões detectadas em horizontes mais curtos se propaguem para horizontes mais longos". Assim, o Copom acompanhará "atentamente" a evolução do cenário prospectivo para a inflação até a reunião de junho, "para então definir os próximos passos" da estratégia adotada desde setembro de 2004. A grande preocupação é evitar que os recentes aumentos de preços contaminem a inflação futura, tirando-a da trajetória de metas traçada pelo governo para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Foi por ver persistência de riscos de curto prazo nos últimos meses que o Copom decidiu elevar a Selic em mais 0,25 ponto ao ano em em maio. Para o comitê, diante dessa persistência, só a perspectiva de manutenção do nível de 19,5% ao ano "por período suficientemente longo" "não proporcionaria condições adequadas" de convergência da inflação para a trajetória de metas. O Copom ficou preocupado com o IPCA de abril, que mediu variação de 0,87%, acima do esperado e apontando aceleração inflacionária (em março, o índice variou 0,61%). Sem dar o número, a ata informa que a projeção do BC para a variação do IPCA em 2005 distanciou-se ainda mais da meta, de 5,1%. "Essa deterioração deve-se à surpresa da inflação de abril, que mais do que compensou o efeito da valorização cambial." A projeção oficial para o ano calendário subiu tanto no cenário de referência, que pressupõe manutenção de juros e câmbio, quanto no cenário de juros e câmbio esperados pelo mercado. A inflação estimada pelo BC para os 12 meses terminados em março de 2006, que estava abaixo, agora também está acima da prevista na trajetória de metas. O BC admite elevar mais os juros por entender que isso está efetivamente "evitando que pressões inflacionárias de curto prazo se propaguem para horizontes mais longos". Como exemplo disso, a ata ressalta que a inflação do IPCA projetada para os períodos de 12 meses encerrados em junho, setembro e dezembro de 2006 manteve-se abaixo daquela prevista na trajetória das metas. O que mais preocupa o Copom em relação ao IPCA são os núcleos. Nos diferentes critérios usados, eles registraram aceleração em abril. A ata mostra que o comitê continua a ver como fator de risco o preço do petróleo, mas não prevê aumento do preço doméstico dos combustíveis até fim do ano.