Título: A supremacia da renda fixa
Autor: Flavia Lima e Felipe Frisch
Fonte: Valor Econômico, 30/05/2005, Finanças, p. D1

Fundos da família dos DIs são indicados como os de maior potencial de rentabilidade e baixo risco para o aplicador neste ano de juros reais elevados

As recentes elevações na taxa básica de juros (Selic) pelo Comitê de Política Monetária aumentam as chances de o investidor terminar o ano com altos ganhos e baixos riscos. Demonstram também que, ao contrário do que muitos especialistas previam nos últimos meses de 2004, a soberania da renda fixa está longe do fim. Na avaliação de gestores e analistas, esse ano deve ser mesmo da renda fixa, incluindo aí os fundos DI, curto prazo, e mesmo os prefixados, mais voláteis quando o processo ainda é de alta da Selic. No ano, os DIs, que acompanham a taxa oficial de juros, acumulam valorização de 6,60% até o dia 23, segundo dados do site Fortuna. Em seguida, vêm os renda fixa prefixados, com 6,59%, e de curto prazo, com 6,15%. São as maiores rentabilidades do segmento de fundos. O referencial dos três tipos, o CDI das operações entre os bancos, acompanha a Selic - com meta de 19,75% ao ano - e acumula juros de 6,85% no período. O rendimento tem atraído vultosas aplicações, tanto que as três categorias são também campeãs de captações no ano: a renda fixa pré já recebeu R$ 19,168 bilhões, o curto prazo, R$ 17,891 bilhões e os DI, mais R$ 13,289 bilhões. Parte desta movimentação, especialmente no caso dos prefixados, espelha a reclassificação de muitos multimercados, que registram uma saída líquida de R$ 29,540 bilhões. O motivo é o ajuste de gestores à Instrução 409 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). No mesmo período do ano passado, renda fixa, curto prazo e DI somavam aportes de R$ 21,260 bilhões, sendo que os DI lideravam resgates entre os fundos, com saque de R$ 1,994 bilhão. Por enquanto, os investimentos referenciados ao CDI lideram os ganhos no acumulado do ano em meio a fracos concorrentes. Até o dia 23, o Ibovespa acumulava perda de 7,56%. Já os fundos cambiais, com prejuízo de 7,99%, acompanham a desvalorização de 8,55% da moeda americana desde janeiro. "No ano, a renda fixa ainda vai ser o melhor investimento", avalia o estrategista do Banco Modal, Alexandre Póvoa. O economista considera otimistas os que vêem chance de redução dos juros já a partir da reunião de outubro do Comitê de Política Monetária (Copom). Ele acredita que as altas ainda não terminaram. Na sexta-feira, a ata da última reunião do Copom revelou que o aperto monetário pode não ter acabado. O documento diz que o comitê não descarta também a possibilidade de a autoridade monetária aumentar a magnitude da elevação da Selic, se necessário, "caso venham a exacerbar-se os fatores de risco acompanhados pelo Comitê". Apesar disso, José Alberto Tovar, da ARX Capital, está otimista. Ele acredita que o aperto monetário se encerrou em maio e que as baixas devem começar entre setembro e outubro. "Um pequeno pedaço da carteira em fundos de ações de gestão ativa pode trazer ganhos." Para prever o rumo dos juros e da bolsa, o mercado aguarda os números do Produto Interno Bruto (PIB) que serão divulgados amanhã. "Se vierem abaixo da expectativa dos analistas, podem criar um clima positivo e indicar o fim do ciclo de alta dos juros, o que pode criar um clima positivo para os prefixados", avalia Póvoa, do Modal. No curto prazo, um baixo crescimento seria ruim para a bolsa, mas ela poderia ser beneficiada com o fim da alta de juros, diz. Entre as aplicações atreladas aos juros, os fundos DI ainda são a melhor opção, especialmente para os aplicadores mais conservadores. Essas carteiras permitem que o investidor passe pelo cenário de instabilidade política local e pelas dúvidas sobre o ritmo de crescimento da economia americana sem sustos, diz o consultor de investimentos Fabio Colombo. Ao investidor menos conservador, Colombo sugere que algo entre 15% e 30% dos recursos disponíveis sejam voltados para a renda fixa prefixada. "A tendência é de que, se tudo correr bem, os juros comecem a cair, com chances de algum ganho para quem travar o juro atual." O consultor lembra, no entanto, que a maioria dos fundos chamados de renda fixa tem uma parcela muito pequena da carteira em títulos prefixados. Nesse caso, diz, a saída pode ser a compra direta de papéis prefixados pelo Tesouro Direto ou o investimento em CDBs pré. Já na opinião de Tovar, é difícil um investidor comum conseguir captar o melhor momento para investir em um título do Tesouro ou mesmo comprar um CDB pré. Ele recomenda, no lugar dos prefixados, algo entre 20% e 30% dos recursos disponíveis em fundos multimercados. "Eles são mais eficientes para capturar quaisquer mudanças de cenários, inclusive eventuais quedas dos juros". Colombo, porém, não recomenda o que chama de "misturas de aplicações". Segundo ele, o fato de o investidor não saber qual a composição e o nível de alavancagem do multimercado pesa contra. O superintendente de renda fixa da ABN Amro Asset Management, Eduardo Castro, é mais cauteloso ao avaliar se a renda fixa manterá as vantagens deste ano em relação às outras aplicações. "Mas, definitivamente, este ano está sendo particularmente favorável aos investidores mais conservadores, que encontram risco baixo com uma rentabilidade elevada", diz. O gestor admite que, mesmo nas carteiras tidas como prefixadas - chamadas simplesmente de renda fixa nos bancos -, nenhum gestor se arriscou a fazer posições muito grandes em pré, que se beneficiariam num cenário de queda de juros. Segundo ele, na maioria dos casos, os fundos têm aumentado os investimentos prefixados apenas com operações "oportunistas". "Se o gestor acha que algum número de inflação ou do PIB virá baixo, por exemplo, e prevê que os juros no mercado futuro vão cair, arrisca entrar no prefixado, mas por um período rápido e com quantias pequenas", analisa. "Com uma inflação de 0,6% a 0,7% ao mês e uma taxa nominal de juros de 1,5% ao mês, que equivale a um juro real de mais de 13% ao ano, fica difícil competir", afirma. Mas Castro acredita que o ciclo de alta dos juros está no fim e a redução deve vir em outubro ou novembro.