Título: Política e corrupção desgastam Lula
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2005, Política, p. A6

A percepção segundo a qual o governo do PT vai mal, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai muito bem, obrigado, uma constante nas aferições de opinião pública, pode estar com os dias contados. A pesquisa CNT/Sensus a ser divulgada hoje, em Brasília, acusa uma nova queda na aprovação de Lula. Pequena, é verdade, mas a segunda consecutiva, desde que a tendência de alta foi interrompida na pesquisa realizada entre 12 e 14 de abril passado. Mais importante do que a pequena queda na aprovação do presidente, no entanto, talvez seja o sentimento da população em relação a vários outros temas detectado pelo Sensus. É voz corrente em governos em dificuldades que a crise é coisa de políticos, está localizada nos limites do Congresso, e que pouco ou quase nenhum interesse desperta no cidadão comum, aquele que acorda cedo e pega dois ônibus para chegar ao trabalho. Os números CNT/Sensus apontam numa direção contrária. Questionados se a "condução do governo na área política" era adequada e estava no rumo certo, 35% dos entrevistados responderam que sim, mas outros 46,7% disseram que ela é "inadequada". Em relação a dezembro do ano passado, a última vez em que essa questão foi formulada, o aumento dos que consideram "inadequada" a condução política foi de 10 pontos percentuais. Segundo Clésio Andrade (PL), vice-governador de Minas e presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), responsável pela pesquisa, o levantamento captou ainda pouco da repercussão das denúncias de corrupção nos Correios. Mas os índices apontam que além da percepção de incompetência na condução política, a sensação de que a roubalheira no governo do PT também começa a pegar. À pergunta sobre o "sentimento de corrupção" no governo Lula, 31,2% dos entrevistados responderam que ela havia "aumentado muito" e "aumentado um pouco". Em março passado, a soma das duas respostas foi de 25%. Com os desdobramentos da CPI dos Correios a tendência, de acordo com analistas de pesquisa, é que esses percentuais aumentem e afetem o índice de aprovação da pessoa física Lula. Condução política e corrupção formam o epicentro da crise cuja conseqüência foi a criação da CPI dos Correios. Sem maioria no Congresso, Lula tentou formar uma coalizão que foi bem no primeiro ano, enquanto a popularidade do presidente estava em alta, mas que entrou em colapso: o governo aceitou os deputados e partidos de forma utilitária; os deputados e partidos também se deram o direito de usar o Estado de forma utilitária. Deu no que deu, nos Correios, IRB, Petrobras. Tudo indica que semana passada, durante a frenética corrida de ministros para barrar a CPI, Lula tenha se recusado a pagar pela retirada de assinaturas. Além do caso de Anthony Garotinho, que queria a liberação de R$ 350 milhões de depósitos judiciais para o Rio, é dado como certo que pelo menos um deputado tentou negociar seu autógrafo por contratos na Infraero. Os R$ 12 milhões empenhados de emendas ao orçamento são fichinha perto dos R$ 300 milhões empenhados em véspera de votações importantes do governo passado. Mas nada indica que Lula esteja pronto para fazer uma correção de curso profunda na condução política.

Aprovação do presidente cai de novo

O risco é que o eleitor de Lula passe a achar que a economia vai mal. Se a política ainda não contaminou a economia, a pesquisa da CNT/Sensus indica que a população começa a achar que sua vida está piorando. À pergunta sobre se a "política econômica" está "adequada", no "rumo certo", 37,5% responderam "sim", contra 45,2% que disseram que é "inadequada". Exatamente o contrário das respostas dadas em dezembro passado. "A inoperância complica muito a vida do presidente. O governo está perdido, está sem nau", diz Clésio Andrade. Dirceu namorou tucanos Transcrevo correspondência do senador Tião Viana (PT-AC) a propósito da "Opção preferencial pelos 300 picaretas", na qual afirmo que o ministro José Dirceu (Casa Civil) implodiu eventual aproximação com o PSDB: "Obrigado pela referência ao meu nome, externada em sua coluna de hoje neste respeitável jornal Valor, onde se podem confirmar traços jornalísticos seus, pautados por honestidade intelectual e lucidez. Creio que refletimos sobre um tema atual e que impõe a participação de todos aqueles que testemunham um especial momento da história republicana, onde a oportunidade dada pela sociedade brasileira em 2002, tem sido solidamente correspondida pelo Presidente Lula , como muito bem o demonstram os dados de gestão desses últimos 25 meses, especialmente nas áreas macroeconômica, de política externa e social. Todavia, julgo imprescindível que possamos registrar a bem da verdade, que quanto ao ministro José Dirceu, o mesmo também entendeu como adequada uma aproximação com o PSDB, no início da gestão Lula, tendo inclusive aberto canais de diálogo com alguns dirigentes nacionais do partido, a exemplo do senador Tasso Jereissati e do governador Aécio Neves. Época inclusive em que o Presidente Lula expressou sensibilidade para com o assunto, como você recorda no então jantar com os jornalistas na casa da Teresa Cruvinel. Lamentavelmente naquele momento, diálogos foram deformados para a imprensa e veio o trágico episódio 'Waldomiro' que, infelizmente, expôs atitudes de volúpia denuncista, lembrando o velho 'udenismo', por parte de muitos tucanos, com desprezo absoluto pela biografia e pela honradez do ministro José Dirceu, fato lamentável que feriu de morte a cordialidade recente da transição. Agradeceria ainda que você pudesse deixar claro que não é minha a afirmação que o nosso Governo faz opção por trezentos picaretas, inclusive, pelo fato de não ser da minha personalidade ficar à caça das deformidades morais alheias, mas, sim, como você bem disse na coluna, a opção pelos bons valores republicanos, pelos seguidores da ética política e das ações maiores do parlamento brasileiro."