Título: Câmbio ajuda e dívida fica em 50,1% do PIB
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2005, Brasil, p. A3

Graças à valorização do real e ao aperto fiscal, a divida líquida do setor público registra uma queda não esperada neste início de ano. Em abril, fechou em R$ 956,677 bilhões, ou 50,1% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo números divulgados pelo BC. Encolheu 1,5 ponto percentual em quatro meses e, para maio, a autoridade monetária espera que continue caindo, para 49,8% do PIB - percentual que, se confirmado, representa o primeiro rompimento do "piso" de 50% do PIB desde abril de 2001. Mas toda a evolução recente da dívida pública poderá se mostrar temporária, caso se confirmem prognósticos de analistas econômicos para câmbio, juros e superávit primário. Tomando como parâmetro projeções de mercado, o BC calcula que a dívida vá encerrar o ano em 51,3% do PIB, o que equivale a dizer que ficaria praticamente estável em relação aos 51,6% de dezembro de 2004. O calcanhar-de-aquiles do endividamento é o aperto na política monetária. O mercado estima que a Selic média em 2005 ficará em 19,15% ao ano, bem acima dos 16,97% observados nos 12 meses encerrados em abril. É que, com a redução da dívida indexada ao câmbio, os papéis vinculados à taxa Selic têm tido importância cada vez maior na dinâmica da dívida. Hoje, uma alta de um ponto percentual (pp) nos juros básicos, se mantida por 12 meses, leva a um aumento de 0,33 pp na dívida; um ano antes, o efeito era de 0,29 pp. A taxa de câmbio - que, com a valorização de 5,06% em abril, provocou o recuo de 0,4 ponto percentual na dívida líquida - deverá ter efeito inverso até o fim do ano. Analistas apostam em uma cotação do dólar em R$ 2,70 no fim do ano. Uma alta de 1% na taxa de câmbio expande a dívida líquida em 0,07 pp. Finalmente, o superávit primário, que vem atingindo patamares surpreendentes - 5,03% do PIB nos 12 meses encerrados em abril - tende a recuar. A meta oficial é um superávit de 4,25% do PIB, o que significa afrouxamento nos gastos, a menos que o governo passe a perseguir um alvo mais ambicioso. O crescimento da economia é um componente vital para a queda da dívida. Em abril, seu efeito sobre o débito foi positivo em 0,3 ponto percentual e, no quadrimestre, de 1,5 pp. O aperto na política monetária tende a produzir crescimento menos vistoso que o imaginado - na casa dos 3,5%, segundo o consenso de mercado. Em 2004, a expansão de 5,2% do PIB deu contribuição de 7,9 pontos percentuais na redução do débito. (AR)