Título: Preços no atacado caem e geram deflação em maio
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2005, Brasil, p. A3

A inflação de maio medida pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) foi negativa. Os preços, que haviam subido 0,86% em abril, caíram agora 0,22%, o menor resultado desde julho de 2003 (- 0,42%). O número foi totalmente influenciado pelo atacado, onde o índice de maio registrou deflação de 0,77%, menor resultado desde junho de 2003 (-1,67%). No varejo, os preços tiveram alta de 1,02%, a maior desde abril de 2003 (1,28%). O custo da construção subiu 0,54% em maio, ante 0,38% em abril. A deflação no atacado teve origem nos preços agrícolas, mas a inflação dos preços industriais também caiu. Os analistas avaliam que haverá desaceleração dos preços do varejo no curto prazo, mas há controvérsias quanto às taxas de juros. Por ser um indicador formado pelo Índice de Preços por Atacado (IPA), com 60% de peso; pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com 30% de peso; e pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), com 10%, o IGP-M não obrigatoriamente se alinha no curto prazo com indicadores de varejo, como o IPCA, do IBGE, a inflação oficial do país. Mas, historicamente, o IPA tem reflexo posterior nos IPCs, não necessariamente na mesma intensidade. "É possível que no horizonte de um a dois meses o consumidor comece a sentir o efeito", disse Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), responsável pela divulgação do IGP-M. Quadros destacou o fim do efeito da estiagem no Sul do país sobre os preços agrícolas como principal causa da deflação no atacado. Embora a alta dos preços industriais tenha sofrido desaceleração - de 0,95%, em abril, para apenas 0,13% em maio -, os preços agrícolas, que haviam subido 0,96% em abril, desabaram em maio, uma queda de 3,42%. As outras razões, segundo Quadros, foram a taxa de câmbio, pressionando para baixo as commodities (ferro, aço e derivados baixaram 0,60%), e os combustíveis e lubrificantes que, também influenciados pelo câmbio, tiveram queda de preços de 0,38% (alta de 2,35% em abril). Sobre a influência dos juros, ele arrisca dizer que ela pode estar ocorrendo entre os bens de consumo duráveis (queda de preços de 0,33% em maio), mas prefere ser cauteloso. "Ainda estamos vivendo um momento de indefinição, de indicadores contraditórios." O economista Luiz Roberto Cunha, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), avalia que o efeito dos agrícolas é muito volátil e destaca a importância da queda dos preços industriais. Ele elaborou um gráfico mostrando que há convergência entre o IPA industrial e o IPCA industrial (40% do IPCA cheio), em trajetória da curva e, algumas vezes, em níveis de variação. Cunha avalia que o IPCA de maio ficará entre 0,55% e 0,65% (0,87% em abril). Em junho, cai para 0,40%. Para ele, o comportamento do IPCA industrial vai influenciar o BC a manter em junho a taxa de juros nos 19,75% atuais. Por entender que a queda de preços no atacado resulta apenas da correção do choque de oferta agrícola provocado pela estiagem no Sul, Alex Agostini, da consultoria GRC Visão, avalia que o BC subirá os juros mais 0,25% em junho, entendendo que a política monetária apertada ainda não fez efeito. Agostini estima um IPCA de 0,55% em maio e 0,40% em junho.