Título: Senadores petistas cobram atitude
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2005, Política, p. A6

Integrantes da bancada petista no Senado deixaram o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) numa posição delicada ontem ao relatarem, com riqueza de detalhes, a quebra de acordo político do paulista com cinco colegas. O debate ocorreu no plenário do Senado e provocou reações irônicas da oposição, que o considerou uma das "velhas sessões psicanalíticas do PT". Suplicy decidiu assinar o requerimento de criação da Comissão Mista Parlamentar de Inquérito dos Correios ignorando não apenas a decisão da maioria da bancada, mas um compromisso negociado com outros petistas que também pretendiam adotar o mesmo procedimento. Mesmo depois de a bancada ter decidido não apoiar a CPI, os líderes do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), e o da bancada petista, Delcídio Amaral (MS), autorizaram seis senadores do partido - Suplicy, Paulo Paim (RS), Cristovam Buarque (DF), Flávio Arns (PR), Serys Slhessarenko (MT) e Ana Júlia (PA) - a assinar o requerimento caso a operação em curso para retirada coletiva de assinaturas malograsse. O governo já tinha dado anuência, só que a entrega das assinaturas deveria ocorrer apenas às 23h55, cinco minutos antes do fim do prazo. O documento com a assinatura dos seis petistas no requerimento da criação da CPI foi redigido no gabinete de Suplicy. Inesperadamente, sem consultar os colegas, o senador subiu à tribuna por volta das 21h e anunciou que apoiaria a CPI. Com olhos marejados, fez um discurso emocionado e ganhou a simpatia popular. Na sua caixa postal, até ontem, havia 1.140 mensagens com elogios. Suplicy contou ontem na tribuna que só recebeu aplausos ao circular no domingo pela avenida Paulista, durante a Parada Gay. "Fui comprar remédio e o farmacêutico me cumprimentou. Na pracinha, interromperam minha ginástica para me cumprimentar", disse . Quem não gostou mesmo foram os senadores petistas, muitos ameaçados de perder a próxima eleição. Na tribuna, Delcídio Amaral disse que Suplicy fez "um papelão". Mesmo com a oratória fidalga e respeitosa - como reconheceu o próprio Suplicy -, o líder do PT acusou o senador paulista de "quebrar a confiança" de toda a bancada. "Assim como Vossa Excelência foi pressionado (pela população), os outros senadores também receberam várias mensagens contestatórias. O senhor passou a imagem de que existe na nossa bancada os mais justos e os menos justos. Ninguém nasceu com uma espécie de dom divino de reproduzir mais especialmente o desejo da nossa gente". A senadora Ideli Salvati (SC) disse que Suplicy agiu premeditadamente, pensando no bônus eleitoral. "Vossa Excelência rompeu um acordo que nos unificou durante todos esses anos. Todos os seis senadores sabiam que a CPI seria irreversível. Meu questionamento é apenas de método. Firmado um acordo, não se volta atrás", criticou Paim. Suplicy alegou que resolveu de impulso apoiar a CPI porque recebeu a informação de que o governo havia conseguido retirar assinaturas dos aliados, em bloco. Paim mais uma vez destruiu seu argumento e contou que, na Câmara, 11 petistas tinham anunciado na mesma hora que não retirariam as assinaturas. Apesar da catarse, não há sinais de punição. "O PT sabe que sua expulsão teria um impacto negativo nas candidaturas do partido em São Paulo e na reeleição de Lula", disse a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL)