Título: Crise aberta pela CPI ameaça o PT a ceder vaga de Suplicy ao PMDB
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2005, Política, p. A6

O senador Eduardo Suplicy fez o seu maior gesto de dissidência dentro do partido no mês em que surgiram as primeiras articulações para sacrificar a sua candidatura à reeleição em 2006. Segundo um dirigente do PT paulista, o cenário mais provável ainda é o de Suplicy concorrer, mas há a possibilidade- considerada remota antes da criação da CPI - de a vaga do senador ir para o ex-governador Orestes Quércia (PMDB). Esta possibilidade foi tratada entre os dirigentes do PMDB e do PT antes das denúncias nos Correios, mas o rumo das conversas teria desanimado o pemedebista, que iniciou então uma aproximação com o PSDB do governador Geraldo Alckmin. A criação da CPI e a maior dependência do governo em relação ao PMDB pode recolocar o assunto em discussão. De acordo com este dirigente , a assinatura do requerimento foi a quarta atitude "hostil" de Suplicy à cúpula nos últimos anos. A primeira foi disputar contra Lula as prévias à Presidência em 2002. A segunda, a defesa da permanência da senadora Heloísa Helena no PT. A terceira, o convite público ao ministro da Casa Civil, José Dirceu, para que fosse ao Congresso se explicar sobre o caso Waldomiro. Ainda assim, o senador não deve ter adversários dentro do partido para tentar a reeleição, por puro pragmatismo: o torpedeamento da sua candidatura não provoca um racha interno, já que Suplicy não é forte dentro da estrutura partidária, mas leva o partido a perder votos em um eleitorado conservador simpático ao senador. A maior ameaça é a aliança com o PMDB. O senador mostra-se confiante de que estará à salvo de retaliação . "O presidente do PT, José Genoino, afirmou que não cogita inviabilizar minha candidatura", afirmou, tentando em seguida ligar pelo celular para o dirigente, sem sucesso. "Hoje mesmo vou procurá-lo. Tenho com todos no PT uma relação de respeito", diz. Ainda este ano, tenta tornar a nova candidatura fato consumado. No próximo dia 26 de junho, o senador irá realizar uma reunião com intelectuais, artistas e jornalistas no Teatro Oficina, em São Paulo, que deverá terminar com o lançamento de sua nova candidatura. Suplicy justifica a CPI com dois motivos. Um é de natureza política e coincide com a pregação da ala esquerda da sigla: a CPI pode levar o governo a mudar a articulação no Legislativo, investindo menos em formar maiorias parlamentares e mais nos laços com movimentos sociais. "É melhor que não tenhamos um congressista votando em troca de cargos ou verbas, mesmo com o risco de perder as votações", diz. O outro é eleitoral. "Em nenhum momento percebi a direção do partido tão distante do sentimento do povo", diz. Para justificar a pressão popular, o senador cita a namorada, Mônica Dallari. Mostra um recado deixado por ela no celular, no dia em que a bancada no Senado decidiu não assinar a CPI. No recado, Mônica lamenta a decisão e avisa que sua reeleição correria risco. Depois de assinar a CPI , Suplicy recebeu outro recado da namorada, parabenizando-o. "Concordo em relação aos riscos da minha reeleição", diz o petista. Em um dos telefonemas que Mônica deu ao senador, Suplicy estava com os senadores Paulo Paim (PT-RS) e Cristovam Buarque (PT-DF). Passou o telefone aos dois, para que ouvissem os argumentos da namorada