Título: Bezerra quer manter liderança do governo
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2005, Política, p. A6

O líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN), afirmou ontem que não cogita entregar o cargo como consequência de entrevista que deu à revista "Veja", em que demonstrou estar desapontado com o governo que não nomeou seu indicado, Ezequiel Ferreira de Souza, para a diretoria de Tecnologia dos Correios. A nomeação não sairia enquanto não fosse concluída uma licitação de US$ 56 milhões, conduzida pelo atual ocupante do cargo, Eduardo Medeiros, ligado ao PT. Essa licitação teria como participante a empresa Novadata, de Mauro Dutra, amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao longo do dia de ontem esperou-se, no Congresso, que o senador Bezerra fosse dispensado da liderança ou que entregasse a função. "Não fui cobrado por ninguém até agora, não agredi o governo", afirmou. Bezerra reafirmou sua entrevista dizendo que suas declarações são "imutáveis". "Se considerar que minhas declarações são constrangedoras eu deixo o cargo", afirmou. Bezerra conversou com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP) e com o presidente da casa, Renan Calheiros (PMDB-AL) antes de se reunir com o ministro da coordenação política, Aldo Rebelo, no Palácio do Planalto. O senador do PTB seguiu confiante para a reunião com o governo, onde também estaria o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Na reunião, que poderia se estender até a sala do presidente Lula, Bezerra explicaria as declarações. O senador pretendia contar ao ministro da Articulação Política que as declarações foram dadas sem o conhecimento de toda a matéria e antes da primeira divulgação de denúncias de corrupção nos Correios pela revista. O senador também pretendia afirmar que a carta anônima que recebeu, que foi divulgada pela revista, foi obtida à sua revelia, já que sua secretária teria entregue diretamente à "Veja". A carta conta que o nome indicado pelo senador para os Correios não sairia enquanto não fosse concluída a licitação. A carta também afirma que a licitação de US$ 56 milhões seria vencida com um ágio de 20% sobre o valor de mercado.