Título: Brasil ganha espaço do sócio dentro e fora do Mercosul
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2005, Especial, p. A12
Os empresários brasileiros estão aproveitando melhor que os argentinos a explosão do comércio global. Embora as exportações dos quatro sócios do Mercosul estejam crescendo em um ritmo expressivo, o Brasil ganha espaço da Argentina nas vendas dentro e fora do bloco. Responsável pelo grande impulso das vendas do Mercosul para o exterior, o Brasil respondia por 67,9% das exportações extrabloco nos três primeiros meses de 1998. A participação saltou para 73,2% em igual período de 2004 e chegou a 75,1% de janeiro a março de 2005. A Argentina viu seu quinhão nas vendas do Mercosul para fora do bloco encolher de 29,1% no primeiro trimestre de 1998, para 24,2% de janeiro a março de 2004 e para 22,7% nos três primeiros meses de 2005. O Uruguai respondeu por 1,85% dos embarques no primeiro trimestre de 2005 e o Paraguai por 0,37%. O Brasil também ganha participação da Argentina nas vendas realizadas entre os países do Mercosul. O país respondeu por 53,5% das exportações dentro do bloco no primeiro trimestre do ano, percentual superior aos 48,7% registrados no mesmo período de 2004 e aos 49% de janeiro a março de 1998, conforme levantamento da consultoria abeceb.com, de Buenos Aires. Já a participação da Argentina no comércio intrabloco ficou em 35,8% nos primeiros três meses do ano, abaixo dos 40,3% do primeiro trimestre de 2004 e dos 39,4% de igual período de 1998. No primeiro trimestre de 2005, o Uruguai respondeu por 4% das vendas dentro do bloco e o Paraguai por 6,7%. Como o Brasil desvalorizou sua moeda em 1999, as empresas brasileiras tiveram mais tempo que as argentinas para se preparar para a explosão do comércio mundial, avalia Dante Sica, presidente do Centro de Estudos Bonaerense (CEB) e ex-secretário da Indústria da Argentina. Segundo ele, outro fator que ajuda o Brasil a ganhar participação nas exportações do Mercosul "é uma bateria de programas do governo brasileiro de apoio à exportação que não existem na Argentina". Por conta das pequenas participações de Uruguai e Paraguai, o comércio intrabloco do Mercosul se resume praticamente às trocas entre Brasil e Argentina. O Brasil concentrou 83,2% das vendas da Argentina dentro do bloco. A Argentina, por sua vez, representou 84,5% das exportações do Brasil no Mercosul. Dante Sica também chama a atenção para a dependência da pauta de exportações da Argentina de produtos primários. Em 1989, os cereais respondiam por 5,3% das exportações da Argentina ao Brasil. Em 1994, esse percentual atingiu 6% e, em 2004, saltou para 12,7%. Já os equipamentos mecânicos, que chegaram a responder por 8,3% dos embarques em 1989, hoje estão em apenas em 6%. Já o Brasil exporta cada vez mais produtos de valor agregado para a Argentina. Dados da consultoria abeceb.com demonstram que os veículos e autopeças, que representavam apenas 7,3% dos embarques do Brasil para a Argentina em 1989, atingiram 23,9% em 1994 e 27,6% em 2004. A participação dos equipamentos elétricos na pauta exportadora para o país vizinho também subiu de 4,8%, em 1989, para 8,8%, em 2004. Já as vendas de químicos orgânicos, que já responderam por 18,1% dos embarques em 1989, restringem-se hoje a 4,1% do total. (RL)