Título: ALL e Bunge fecham contrato de 23 anos
Autor: Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2004, Empresas & Tecnologia, p. B-1

A América Latina Logística e a Bunge Alimentos acabam de fechar o maior e mais longo contrato de transporte ferroviário cargas de que se tem notícia no país. Pelos próximos 23 anos, até 2027, a ALL movimentará um total de 270 milhões de toneladas de grãos e derivados produzidos pela Bunge. O volume equivale a mais de duas vezes a atual safra de grãos do Brasil. Para a ALL, o contrato representa crescimento assegurado pelas próximas duas décadas. Para a Bunge, é um movimento decisivo para incrementar a participação do transporte ferroviário, mais eficiente e menos custoso, em sua matriz logística. "É o nosso maior contrato", afirmou Bernardo Hees, diretor-superintendente da ALL. A operadora de logística já tinha outros acordos longos, mas o prazo máximo até agora era de 15 anos. De acordo com o executivo, o negócio representará uma receita anual média de R$ 270 milhões a R$ 350 milhões. Em 2010, quando o contrato atingir o seu volume pleno, a receita anual gerada por ele superará os R$ 400 milhões. O equivalente a 40% do faturamento bruto estimado para a ALL em 2004 (sem contar o negócio argentino). Atualmente, o transporte ferroviário representa 30% dos 26 milhões de toneladas movimentados pela Bunge anualmente, repartidos entre ALL, MRS Logística, Ferrovia Centro-Atlântica e Ferronorte. A maior parte da produção ainda é movimentada por rodovias. "Com esse acordo, a expectativa é que a ALL venha a responder pelo transporte de 20% a 25% do nosso volume", disse Sérgio Sabino, diretor administrativo e financeiro da Bunge. No ano que vem, serão 7,4 milhões de toneladas, 50% a mais do que os 5 milhões deste ano. Pelos termos do acordo, haverá um incremento progressivo até 2010, quando se chegará a 13,3 milhões de toneladas anuais. A partir daí o volume permanecerá estável. Para se ter uma idéia da relevância desses números, basta dizer que a ALL deve fechar 2004 com um volume total transportado na casa dos 24 milhões, dos quais 10 milhões aproximadamente serão produtos agrícolas. O milho, a soja, o farelo e o óleo que serão transportados terão origem nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e serão escoados pelos portos de Paranaguá, Rio Grande e São Francisco do Sul. O acordo prevê um acréscimo de 4 mil vagões à frota da ALL. Hoje a companhia opera 11 mil vagões, dos quais 6 mil são de grãos. Os vagões, segundo Hees, serão "disponibilizados" pela Bunge para uso exclusivo da ALL. De acordo com Sérgio Sabino, os primeiros 650 vagões, que entram em operação em 2005, serão alugados pela Bunge. Já foram encomendados à MRC Locação de Vagões, do grupo Mitsui, e começam a ser entregues em novembro. Segundo uma fonte, a Mitsui encomendou 150 vagões à fabricante de carrocerias Randon. A Iochpe-Maxion, fabricante de autopeças e componentes ferroviários, vendeu os outros 500 vagões. Segundo a Iochpe, as entregas serão concluídas até o início de 2005. "Além dos vagões, haverá investimento na modernização da infra-estrutura de fábricas e portos para comportar esse volume", disse Hees. Após a divulgação do acordo, analistas do mercado de ações ressaltaram a importância de a ALL ter assegurado um volume expressivo de negócios para as próximas duas décadas. "Embora isso (o contrato) não aumente nossas projeções (para a ALL), elimina um risco significativo para a companhia", afirmou Ken Hoexter, da Merrill Lynch, em relatório publicado ontem. As ações preferenciais da ALL subiram 0,79% e fecharam a R$ 63,50. Por outro lado, a notícia de que a Brasil Ferrovias está prestes a receber um aporte de mais de R$ 600 milhões levou alguns analistas e se preocupar com o impacto sobre a ALL. "Uma vez saneada, a Brasil Ferrovias pode começar a 'roubar' carga da ALL destinada ao porto de Santos", afirmou um analista. (Colaborou Nelson Rocco)