Título: Gerdau vai acirrar disputa em São Paulo
Autor: Ivo Ribeiro e Patrícia Nakamura
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2005, Empresas &, p. B9

Nova usina, prevista para julho, reduzirá custos nas vendas de vergalhões no principal mercado do país

A Gerdau montou bases de produção, a grande maioria por meio de aquisições, em vários cantos das Américas, onde hoje ocupa a posição de segundo maior produtor de aços longos - está presente do Uruguai ao Canadá. Só perde em tamanho para a americana Nucor. Mas só agora, depois de idas e vindas, o grupo gaúcho, fundado há 104 anos em Porto Alegre (RS), instala no maior mercado brasileiro sua primeira usina. A fábrica paulista será a de número 11 no país. Ela traz a marca de estrategista imprimida por Jorge Gerdau, comandante do grupo que mais movimentos tem feito nos últimos anos no Brasil e América do Norte. EUA e Canadá já concentram metade da capacidade de produção da companhia. O investimento de R$ 800 milhões em São Paulo, em duas etapas, busca dar maior poder de competição ao grupo em um produto típico para o mercado da construção - o vergalhão. Fará frente à sua principal concorrente, a Belgo-Mineira, braço de aços longos na América do Sul da Arcelor, líder européia e segunda mundial. A Belgo, desde os anos 90, já opera uma usina no mercado paulista, em Piracicaba (SP), a 150 km do grande mercado consumidor de vergalhões - a Grande São Paulo. No ano passado, duplicou sua capacidade para 1 milhão de toneladas e reforçou seu poder de fogo nas vendas de vergalhões no principal mercado de construção. "Nossa usina tem a concepção de 'market mill', ou seja, está no entorno do mercado", diz Domingos Somma, vice-presidente executivo comercial do grupo Gerdau. Homem de total confiança de Jorge Gerdau, há mais de 30 anos grupo, Somma está á frente do projeto desde sua idealização e neste momento comanda quase 2,5 mil trabalhadores na reta final das obras da usina paulista. A partida do forno está prevista para a segunda quinzena de agosto. A usina de São Paulo fica em um amplo terreno às margens da rodovia Castelo Branco, a 50 km do centro da capital do Estado. A fábrica, que nasce 100% especializada na produção de vergalhões, é estratégica para o grupo. Atualmente, cerca de 60% das vendas desse produto pela Gerdau ocorre no Estado de São Paulo. Somma explica que o material vendido no mercado paulista vem de suas usinas no Rio (Cosígua), Minas Gerais e Paraná. A maior parte da sucata para sua produção é levada de São Paulo, o maior parque gerador da matéria-prima no país. "Temos custos de logística, além de outros, tanto para levar a matéria-prima até essas usinas, quanto para trazer o produto final. Isso agora deixará de existir." O executivo não revela qual é a fatia da Gerdau no mercado de vergalhões, mesma atitude usada pelas concorrentes Belgo e Barra Mansa, empresa do grupo Votorantim. "Somos líderes nesse mercado, posição que queremos manter, e nosso objetivo é melhorar a equação logística, com ganhos de competitividade, e o atendimento aos clientes." A usina paulista começa com capacidade para produzir 900 mil toneladas de aço bruto por ano, material que sairá das máquinas de produção na forma de tarugos. A primeira etapa do projeto ficará completamente pronta em abril de 2006, quando será instalado o laminador de vergalhões. Até lá, usará seus laminadores na antiga usina da Aliperti, em São Paulo. Fabricado pela italiana Danieli, o laminador será totalmente importado ao custo de US$ 60 milhões e terá capacidade para fabricar 600 mil toneladas por ano. Nesse equipamento, a nacionalização será de 35%. No restante da usina - forno, lingotamento, triturador de sucata (máquina Schereder, de US$ 12 milhões) e obras civis e montagem, a nacionalização de equipamentos supera 90%. Segundo Somma, essa usina é a maior unidade produtora de vergalhões do mundo em um único site e terá o maior forno elétrico do país - vai poder lançar ao mercado 130 toneladas de aço em 35 minutos (tempo de uma corrida). A título de comparação, 20 anos atrás um forno levava duas horas para produzir a mesma quantia. O executivo explica que praticamente não haverá pátio de sucata: o material (carros, geladeiras, fogões, retalhos de latas, bicicletas e milhares de outros itens) chegará e em poucas horas estará se transformado em aço de novo. Tudo será moído como se estivesse em um liquidificador, o Schereder. A segunda fase, projetada para 1,3 milhão de toneladas de aço bruto e mais um laminador de 600 mil toneladas, segundo Somma vai depender do comportamento do mercado. As vendas de vergalhões no país, com o baixo crescimento do setor da construção, tem ficado estagnadas no patamar de 1,8 milhão a 2,15 milhões de toneladas por ano. Na primeira etapa, até abril de 2006, a usina vai gerar 400 empregos diretos, mão-de-obra contratada na região, em especial Osasco e Sorocaba. Quando chegar a 1 milhão de toneladas, vai gerar em ICMS R$ 45 milhões/ano para Araçariguama, além de R$ 25 milhões em compra de serviços. Hoje, a cidade arrecada R$ 18 milhões. O novo negócio deverá adicionar ao grupo Gerdau receita bruta de R$ 1 bilhão ao ano no auge. Na produção, este ano agregará 80 mil toneladas.