Título: Meirelles evita dar pistas sobre rumo do juro
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2005, Finanças, p. C2

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem que a queda na inflação sinalizada pelo IGP-M de maio ainda terá de ser confirmada por outros indicadores para que o BC possa mudar a política de juros. Meirelles, que esteve ontem em Buenos Aires para participar de um seminário promovido pelo BC argentino, disse que sua preocupação não está centrada em índices pontuais, mas na manutenção de uma política consistente de combate à inflação. "Estamos observando e vamos continuar observando os índices de inflação, chamando a atenção para o fato de que as metas são fixadas com base no índice de preços ao consumidor", afirmou. De acordo com ele, ainda é cedo para saber se a queda registrada no IGP-M, concentrada nos preços no atacado, vai se refletir no IPC. Meirelles não quis fazer comentários sobre a ata da última reunião do Copom, interpretada pelo mercado como um indício de que os juros voltarão a subir neste mês. Ao mesmo tempo, o presidente do BC reiterou sua convicção de que a política econômica "continua na direção certa", apesar dos protestos do setor empresarial contra os juros altos e a valorização do real. Segundo ele, os resultados serão sentidos no longo prazo. "Não há uma contradição entre crescimento e (combate à) inflação. Os países que mantiveram inflação baixa conseguiram crescer mais. É evidencia empírica." Questionado sobre a possibilidade de problemas políticos afetarem a economia, Meirelles disse que "a economia vai bem e está ancorada em fundamentos sólidos, que fazem com que possamos olhar com tranqüilidade para a questão política". O encontro promovido pelo BC argentino, que comemora os 70 anos da instituição, termina hoje e conta com a participação de acadêmicos e funcionários de bancos centrais de todo o mundo. A abertura do encontro foi feita pelo ex-subsecretário do Tesouro dos EUA, John Taylor, que usou o caso brasileiro como um exemplo da eficiência da política de metas de inflação como fator de manutenção do crescimento. Do debate de ontem também participou o vice-presidente do BC chinês, Xiang Junbo, que voltou a indicar que o país estuda abandonar gradualmente o controle sobre o câmbio, mas que isso será feito de forma cuidadosa e gradual. Segundo Xiang, o país caminha na direção de um câmbio regido pelas regras do mercado, "a partir de nossa própria realidade e considerando a situação de nossas empresas". O governo chinês vem sofrendo uma forte pressão internacional, particularmente dos EUA, para permitir uma valorização de sua moeda. Meirelles também comentou o tema, ressaltando que a decisão sobre o assunto cabe exclusivamente ao governo chinês. Apesar disso, disse "não haver dúvida de que o povo da China paga um preço alto pela manutenção da taxa de cambio". "Evidentemente, o povo chinês está enfrentando esse custo, mas é uma decisão do governo pagá-lo." Segundo Meirelles, ainda não é possível saber quando a transição será possível e qual será o seu custo.