Título: Chávez abre opção nuclear
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 04/04/2010, Mundo, p. 21

América Latina

Acordos com a Rússia preveem ainda cooperação espacial e parceria bilionária no petróleo

Em apenas um dia de visita oficial a Caracas, o premiê russo, Vladimir Putin, conseguiu fechar com o presidente Hugo Chávez a troca foguetes e usinas nucleares por bananas e petróleo. Os dois acertaram 31 acordos de cooperação nas áreas de energia, defesa, tecnologia aeroespacial e agroindústria. O objetivo, segundo Putin, é ¿fazer com que o mundo seja multipolar¿. A breve visita de 12 horas do premiê russo significa um apoio a Chávez no momento em que ele mais precisa: o maior produtor de petróleo da América Latina sofre uma grave crise elétrica, que só tem servido para diminuir ainda mais a popularidade do presidente, meses antes das eleições legislativas. Venezuela e Rússia formalizaram ontem um projeto de US$ 20 bilhões para extrair petróleo da Faixa do Orinoco, e devem estudar nos próximos meses planos de cooperação em energia nuclear e comércio. ¿Não vamos fazer a bomba atômica, mas vamos desenvolver a energia atômica nuclear com fins pacíficos. Temos de nos preparar para a era pós-petroleira¿, argumentou Chávez. Alguns pontos do acordo de defesa preocupam os Estados Unidos desde 2005, quando Chávez começou a comprar material bélico da Rússia em grande quantidade ¿ incluindo caças de última geração, mísseis antiaéreos e uma fábrica de fuzis Kalashnikov. O venezuelano alega que sua revolução bolivariana ¿precisa se armar para enfrentar a ameaça do império ianque¿. Embora tenha garantido que não se trata de ¿uma aliança contra os Estados Unidos¿, Chávez presenteou Putin com uma réplica da espada de Simon Bolívar, patriarca da independência. No ano passado, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, alertou que a Venezuela poderia desencadear uma corrida armamentista na região. Putin demonstrou ontem que o incômodo americano não o afeta. ¿A Rússia, desde o princípio, apoiou a luta da América Latina pela independência¿, disse o premiê. ¿Continuaremos apoiando e desenvolvendo as capacidades de defesa da Venezuela.¿ Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado, Philip Crowley, afirmou à imprensa que a Venezuela e a Rússia ¿são livres para cooperar¿, e fez pouco caso das pretensões espaciais de Chávez. ¿O governo da Venezuela esteve praticamente fechado esta semana, devido a cortes na eletricidade, por isso talvez sua atenção devesse ser mais terrestre do que extraterrestre.¿ Em Caracas, Putin rebateu as suspeitas, levantadas pela Espanha, de que o governo de Chávez estaria apoiando uma aliança entre o grupos basco ETA e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). ¿Temos um banco de informação muito bom sobre os que ajudam ao terrorismo, e nunca tivemos um indício contra a Venezuela¿, ressaltou o premiê russo. Putin também se reuniu com o presidente boliviano, Evo Morales, que foi a Caracas e aproveitou para pedir a Moscou um crédito para comprar helicópteros, destinados a combater o narcotráfico. Morales também mostrou interesse em acordos de energia e defesa com a Rússia.