Título: "Radar" do Ipea acompanha indicadores sociais do país
Autor: Mônica Izaguirre
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2005, Brasil, p. A2

Uma publicação lançada ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que as dificuldades e más condições de moradia no Brasil vão bem além da falta de saneamento básico, o que afeta 35,5 milhões de pessoas, só nas regiões urbanas. Conforme o Radar Social, cerca de 5,7 milhões de brasileiros comprometem com aluguel residencial mais de 30% de sua renda. O número de favelados chega a 6,6 milhões. Outro problema é a superlotação: 17 milhões vivem em residências com mais de três moradores. Lançada também em versão eletrônica na internet, a publicação visa a proporcionar, ao público não-especializado, acompanhamento de indicadores sociais que refletem as condições de vida da população brasileira. Os dados foram pinçados de pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas o Ipea inova ao agrupa-los e apresenta-los num formato que os relaciona com problemas atacados por políticas públicas e programas sociais do governo. Assim, servirá também para o próprio governo, ajudando a avaliar a eficácia de suas ações, destacou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. A moradia é uma das seis dimensões de problemas sociais abordadas pela publicação - que traz ainda indicadores sobre renda, trabalho, saúde, educação e segurança. Foram inseridos também dados demográficos, entre eles a projeção de queda na relação entre população inativa e ativa, de 54,4% ,em 2000, para 48,6%, em 2023. A parcela de inativos vai cair, mas mudará de perfil. Com a queda da taxa de fecundidade, que recuou de 6,2 para 2,3 filhos por mulher desde 1960, haverá mais idosos do que crianças. O Ipea prevê que isso reduzirá a demanda por educação básica, mas, por outro lado, aumentará a demanda por previdência, que já é um dos maiores gastos sociais do governo. Além da superlotação, da falta de saneamento e do alto comprometimento de renda com aluguéis, no quesito moradia, o Radar Social aponta a irregularidade dos imóveis. O número de pessoas que enfrentam a insegurança de morar em domicílios com alguma irregularidade fundiária chega a 9,9 milhões, diz o Ipea. O problema é comum em favelas, onde residem 6,6 milhões de pessoas, 3,8% da população total. As favelas se concentram em regiões metropolitanas, onde estão 78,5% dos favelados. As más condições habitacionais são em parte reflexo da pobreza, expressa nos indicadores de renda. O Ipea adotou como critério de pobreza possuir renda familiar per capita igual ou inferior a meio salário mínimo. E, pelos dados de 2003, essa é a situação de 53 milhões de brasileiros, 31,7% da população. A parcela de pobres é maior entre os negros (44,1%) do que entre os brancos (20,5%) O Ipea mostra o Brasil em penúltimo lugar na distribuição de renda, na comparação com outros 129 países. Só Serra Leoa (África) ocupa posição pior. Entre os brasileiros, os 10% mais ricos concentram 46% da renda nacional. Isso corresponde a cerca de três vezes e meia a parcela que fica com os 50% mais pobres: só 13,3%. Quanto ao desemprego, usando dados do IBGE, a publicação destaca que houve um "acentuado" crescimento da taxa, de 6,2% para 10%, de 1995 a 2003. Isso porque o ritmo de criação de postos de trabalho foi inferior ao do ingresso de novas pessoas no mercado. Há também grande taxa de informalidade. Cerca de 24,2% dos assalariados não tem carteira assinada. Os indicadores de educação indicam baixa qualidade do ensino básico, baixa escolaridade média e alta taxa de analfabetismo. 11,6% das pessoas com 15 anos ou mais não sabem ler nem escrever. 55% dos alunos da quarta série manifestam muita dificuldade com português e 51,6% com a matemática. Os indicadores de saúde e segurança, por sua vez, denunciam entre outros problemas, altas taxas de mortalidade infantil e materna, de violência e de homicídios. A versão impressa do Radar Social deverá sair a cada dois anos.