Título: Empresários criticam política econômica e projetam PIB com alta inferior a 3,0%
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2005, Brasil, p. A3

São cada vez mais pessimistas as expectativas dos empresários do setor siderúrgico com relação ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Eles também temem as conseqüências negativas para as exportações, provocadas pela sobrevalorização do real frente ao dólar. Predomina o sentimento pelo qual os juros altos impedem o desenvolvimento do mercado interno e a moeda brasileira, mais valorizada do que deveria estar, também prejudica a competitividade dos produtos nacionais no exterior. "Está muito ruim. Vocês podem acreditar que a economia está bem parada. O governo vai conseguir derrubar a inflação, mas antes disso a economia cai", lamentou ontem o presidente do Conselho de Administração da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch. Ele acredita que a taxa de crescimento do PIB neste ano não chegará a 3%. Se os juros altos e o câmbio inadequado preocupam os empresários, também há medo de movimentos bruscos e até de fuga de capitais, gerando uma crise inédita para o atual governo. Na hora em que as autoridades mudarem a tendência de alta dos juros, Steinbruch disse que, eventualmente, pode ocorrer uma desvalorização do real muito abrupta. Ele afirma que há muito dinheiro por aí especulando contra o dólar. "Esse número pode ser maior que o governo imagina. A alavancagem hoje permite que se façam apostas muito fortes em moeda", explicou. "Se o governo sinalizar uma mudança na política de juros, vai existir uma fuga de capitais bastante grande. Será uma situação completamente diferente das que vivemos desde o início do governo Lula", advertiu Steinbruch. Os dois problemas - juros e câmbio - estão ligados, na opinião do principal dirigente do grupo Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter. "Os altos juros limitam os investimentos e a demanda. O câmbio é um limitador enorme nas exportações e em toda a cadeia produtiva siderúrgica", alertou. O governo, segundo Gerdau, deveria adotar medidas para evitar que entre dinheiro de curto prazo no país porque isso derruba a cotação do dólar. Quanto aos juros, afirmou que "já passou da hora de os juros serem reduzidos". Steinbruch também afirma que os juros altos fazem com que o real esteja "tremendamente valorizado", o que acaba adiando investimentos. "Já chegamos no limite para uma reversão dos juros", defendeu o presidente da CSN. Para o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, os temores e críticas de Steinbruch são infundados. "Talvez, ele esteja preocupado porque o governo resolveu abrir a importação de aço", disse Bernardo ao Valor. "Eles estão lucrando como nunca. Basta ver os balanços trimestrais das empresas." O novo presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Luiz André Rico Vicente, também tem perspectivas menos otimistas para o setor. Ontem, na cerimônia da sua posse, na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ele afirmou que os resultados da siderurgia poderão ser um pouco menores que os de 2004, mas ainda "bons". Vicente justificou sua previsão afirmando que os preços do aço podem cair a partir de julho e ainda há o aumento do custo das matérias-primas. Apesar desse quadro, garantiu que o nível da produção será mantido. O setor já tinha anunciado um plano de investimentos de US$ 13 bilhões até 2010. "Investimentos em um setor de capital intensivo e utilização elevada da capacidade instalada vêm depois de um período de prosperidade e não serão adiados", prometeu. Ontem, o principal dirigente do IBS preferiu voltar seus ataques ao câmbio. Disse que a relação entre a moeda brasileira e o dólar "já chegou no limite". Essa sobrevalorização, na opinião de Vicente, prejudica mais os itens elaborados, de maior valor. E o maior risco é o da perda de todo o esforço exportador do governo desde o segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. "É um caminho muito perigoso esse câmbio em queda. Cheguei a ouvir em uma cerimônia no Palácio do Planalto que a ordem era exportar ou morrer", afirmou.