Título: Quércia afirma que se estivesse no Congresso não assinaria CPI
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2005, Política, p. A6

Cobiçado como aliado tanto por tucanos quanto por petistas, o ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia, reúne o diretório regional da sigla nesta segunda para discutir as eleições do próximo ano, fazendo acenos ao Palácio do Planalto enquanto negocia a participação pemedebista na administração do governador Geraldo Alckmin (PSDB). "Somos da base de sustentação do governo Lula e estamos nos empenhando em relação a isso. Se estivesse no Congresso, não assinaria a CPI dos Correios. Ela tem clara conotação eleitoral", afirmou, fazendo um contraponto direto ao senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que assinou o requerimento. O ex-governador ressaltou que o deputado federal Marcelo Barbieri (SP), parlamentar que pertence a seu grupo político, ficou do lado do governo nesta questão. E que o presidente nacional da sigla, Michel Temer (SP), que é seu aliado, também não assinou o requerimento. "Não pedi para ninguém deixar de assinar. Essa é uma consciência natural nossa", disse. Dos 43 deputados pemedebistas que assinaram a CPI, 18 são ligados ao ex-governador do Rio, Anthony Garotinho. Em 2002, Quércia perdeu a eleição para o Senado porque não teve reciprocidade do PT, apesar de ter apoiado a candidatura presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva. Setores do PT admitem discutir a hipótese de impedir a candidatura à reeleição de Suplicy para construir uma aliança com o ex-governador. De acordo com Quércia, uma aliança eleitoral em São Paulo dependerá da estratégia do PMDB em relação à sucessão presidencial. Atualmente, os próprios defensores da aliança com o PT reconhecem que está difícil impedir o lançamento de uma candidatura própria. Se prevalecer esta tendência, o ex-governador deverá se lançar novamente para a sucessão de Alckmin e o partido não fará coligações com PT ou PSDB. "Sem candidatura a presidente, aí tem conversa de aliança. Alguém pode até nos apoiar para o governo", disse Quércia. Neste caso, o pemedebista sinaliza que o PT terá que fazer muitas concessões. "O PT não tem o que oferecer para nós. Com o Lula candidato, eles vão ter nome próprio para governador e o Suplicy é praticamente um candidato nato. Com oferta de vice não dá nem para começar a conversar", afirmou. No começo deste ano, Quércia e o presidente nacional do PMDB, Michel Temer, encontraram-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Casa Civil, José Dirceu, mas a conversa decepcionou os pemedebistas. A aproximação com Alckmin, neste contexto, ganha força, de modo ainda cauteloso. Quércia disse que deve ter um encontro com o governador nos próximos dias, mas sem a eleição de 2006 em pauta. "Já estamos apoiando o governador na Assembléia Legislativa e queremos participação no governo. Temos prefeitos espalhados em todo o Estado que precisam de apoio. Falar sobre parceria eleitoral não está na minha cabeça", disse. Desde a eleição do pefelista Rodrigo Garcia para a presidência da Assembléia Legislativa, a base de Alckmin tornou-se vulnerável e o PSDB local abriu-se para discutir alianças. A possibilidade de parceria eleitoral deve nascer depois que o PMDB paulista ingressar no governo. "Ainda estamos distantes. Uma aproximação tem todo um ritual institucional que não se exauriu. Se sentarmos para negociar com respeito, a aliança é uma hipótese", complementou o deputado estadual Baleia Rossi, integrante da Executiva paulista da sigla.