Título: Senadores armam estratégia para enfrentar oposição
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2005, Política, p. A6

Os líderes da base no Senado fizeram ontem uma autocrítica e reconheceram que o momento político é delicado para o governo e, portanto, há necessidade de articular melhor as ações dos aliados para enfrentar a oposição. A avaliação dos líderes é que PFL e PSDB estão azeitados e têm dado demonstrações de coesão e obtido êxito ao expor fragilidades do governo. A reunião foi realizada no gabinete no líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB). Uma preocupação emergencial é com a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Além de buscarem fórmulas para melhorar o entrosamento, os líderes discutiram ainda a urgência de retomar uma agenda de votações para se livrar da ciranda de denúncias e do imobilismo no Congresso. O líder do governo no Congresso, Fernando Bezerra (PTB-RN), disse aos colegas que, neste ano, será preciso garantir o quórum nas votações. Segundo relatos de líderes, Bezerra avisou à base que "acabou essa cultura de votar sem ninguém no plenário", pois a oposição vai se articular para impedir a votação da LDO. A oposição ameaça obstruir as votações e impedir a apreciação da LDO caso o governo enterre a CPI dos Correios. Uma das medidas para melhorar o entrosamento da base será um encontro de líderes do Senado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, provavelmente na próxima semana. Hoje, o presidente Lula receberá o presidente do Senado, Renan Calheiros, e havia uma expectativa dos líderes do PMDB de serem chamados também ao Planalto. "Essa demanda dos líderes é absolutamente legítima e esses encontros devem acontecer com mais freqüência", defendeu o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP). O petista já fez críticas ao Executivo e cobrou mais atenção do governo com o Congresso. Ontem, Mercadante reclamou também da falta de comunicação e sintonia entre as bancadas e citou como exemplo a CPI dos Correios. De acordo com relatos de líderes, Mercadante afirmou que as bancadas não podem mais tomar decisões coletivas sem antes conversar com o governo. Os líderes da base culpam o governo pela desarticulação. "Os ministros não dão satisfações, nem informações. Não recebem nem mesmo os líderes", reclamou um parlamentar presente na reunião. Os aliados reiteraram as críticas à hostilidade do Executivo com os parlamentares. "Muitas vezes nós sequer sabemos o que pensa o governo", reclamou um líder governista. "A oposição construiu uma orquestra. Eles têm maestro, sintonia para cada instrumento e até bumbo, que bate de vez em quando. E o governo é o que? Uma fanfarra", comparou outro líder da base. Além de reuniões rotineiras às segundas-feiras e almoços às terças-feiras, os líderes vão cobrar mais entrosamento do Executivo com o Congresso. Ficou decidido que serão escalados parlamentares, a cada semana, para rebater a oposição no plenário. Os parlamentares ficarão responsáveis por temas específicos. Nas últimas semanas, os oposicionistas têm dominado o plenário do Senado nas sextas-feiras. Os aliados normalmente estão ausentes. PFL e PSDB já começaram inclusive a organizar comitivas de populares para acompanhar as votações no plenário das galerias. Mercadante afirmou que o Congresso não pode ficar paralisado. Mencionou como prioridades a reforma tributária, a lei que redefine o papel das agências reguladoras, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a conclusão da reforma da previdência (PEC paralela), a regulamentação da Lei de Falências, temas relacionados à reforma política e desoneração de investimentos. De acordo com Mercadante, o governo vive um bom momento fiscal e tem, portanto, capacidade de investimentos. Esse quadro permitiria que o Tesouro acelere os investimentos, ou seja, a liberação de emendas de parlamentares. (MLD)