Título: Sob pressão política, presidente cobra crescimento de 4%
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2005, Especial, p. A12

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou medidas da equipe econômica a fim de assegurar o crescimento de 4% do PIB, previsto para este ano, inclusive com o aumento dos gastos públicos, mas dentro dos limites da meta de superávit estabelecidos. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, também está sob forte pressão dos ministérios e da área política do governo, que julgam haver margem de manobra para abrandar o rigor fiscal e que essa margem deve ser usada. O que provocou a cobrança de Lula foi o anúncio do crescimento do PIB no primeiro trimestre de 2005, de 0,3% em relação a igual período de 2004. Segundo auxiliares de Lula, o presidente queixou-se de que apoiou com firmeza todas as medidas propostas pela equipe econômica, como a forte elevação da taxa de juros, a que atribui a desaceleração da economia. O presidente também disse, de acordo com auxiliares, que não vai admitir a "paralisia" do governo. Nos contatos que teve com os ministros da área econômica nos últimos dias, o presidente ordenou que eles ajudem "a passar otimismo" à economia. "O PIB cresceu menos no primeiro trimestre, mas está crescendo há oito trimestres. A ordem do presidente é: 'vamos trabalhar'", contou um ministro. Lula determinou o corte no custeio da máquina, inclusive do Planalto, e quer aumentar o investimento em infra-estrutura e logística. Auxiliares próximos ao presidente lembram que também está prevista a revisão de impostos, na forma de incentivos fiscais. A "MP do Bem", com a redução de impostos para o setor exportador, está nesse contexto. Além do crescimento do PIB no trimestre, incomodam Lula e os ministros o superávit de 7,26% do Produto Interno Bruto de janeiro a abril deste ano, muito acima da meta prevista, para 2005, de 4,25%. A área política do governo, José Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo (Coordenação Política) à frente, avalia que a maior parte da demanda congressual, que atualmente inclui a proposta de criação da CPI dos Correios, se deve ao extremo rigor da política econômica. A exemplo de Lula, todos dizem que não estão querendo "medidas populistas" ou o afrouxamento das metas fiscais, mas também argumentam que o rigor da política econômica é excessivo. Sem dinheiro é impossível ajudar governadores e estabelecer um fluxo para o atendimento das emendas parlamentares ao Orçamento. Ontem, em almoço dos ministros que integram a coordenação política do governo, Palocci foi pressionado a acelerar a liberação das emendas. O argumento da equipe econômica é que a liberação de grandes quantias agora passaria a impressão de que o governo tenta abafar a CPI dos Correios. Em resposta, a área política afirma que sempre haverá votações importantes no Congresso. O importante seria estabelecer um ritmo de liberação gradual. Palocci integra o grupo palaciano que opera para impedir a instalação da CPI dos Correios, mas o comando da articulação anti-CPI é dos ministros Aldo e Dirceu. Em jantar na casa da ministra Nilcéia Freire (Política para as Mulheres), na noite de segunda-feira, os ministros do PT reclamaram do que consideram excessivo rigor fiscal da equipe econômica. Um deles está especialmente aborrecido: Tarso Genro, da Educação, cujo projeto de reforma universitária foi bombardeado pelo secretário de Política Econômica, Bernardo Appy, que considerou "inadequada" a fórmula de financiamento prevista - a troca da dívida dos Estados com a União Federal. Palocci sustentou a posição de Appy. Na segunda-feira, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, foi a Lula cobrar o acordo, firmado com o próprio presidente, pelo qual o ministério ficaria fora da mesada quadrimestral que a Fazenda impõe a todas as Pastas. Saiu convencido de que será atendido.