Título: Palocci evita previsões, vê sinais para desaperto dos juros, mas defende BC
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2005, Especial, p. A12

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, procurou transmitir uma mensagem de otimismo, um dia após serem divulgados números negativos sobre o crescimento da economia no primeiro trimestre. Mas, com prudência, evitou se comprometer com projeções numéricas para o crescimento deste ano, ao ser questionado diretamente se ele também considerava possível uma expansão de 4% do PIB - como fez, horas antes, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.. "Não costumo fazer previsões de números", declarou, explicando que esse dado econômico depende também de fatores que estão fora do controle do governo, como a evolução da economia internacional. "Mas estou otimista e penso que teremos um dado bom para este ano", emendou. "Os indicadores mostram que haverá aceleração nos próximos trimestres", disse, sem especificar que dados são esses. "Há sinais importantes (de acomodação) também no campo da inflação." Para ele, em tese, isso permite em breve um desaperto nos juros. O ministro procurou dar declarações de apoio à atuação do Banco Central para esfriar a economia e controlar a inflação. "Quando a política monetária é mais restritiva no controle da inflação, é de se esperar que haja um arrefecimento dessa natureza", disse Palocci. "Não trocaremos um eventual ganho de curtíssimo prazo por uma perda de longo prazo." Palocci elogiou o desempenho do BC, que, segundo ele, anteviu e respondeu em meados de 2004 a uma pressão inflacionária que ainda estava por acontecer - e que por isso ainda não era clara para a maioria dos agentes econômicos. Ele procurou mostrar tranqüilidade até mesmo com a queda de 3% nos investimentos, indicador que mais preocupa os analistas econômicos, pois compromete a capacidade futura de crescimento da economia. "Os investimentos são o primeiro fator que reagem (negativamente) quando há uma restrição da política monetária, mas são também o principal fator que reage (positivamente) quando você tem uma expansão monetária." Ele disse que, mesmo com duas quedas seguidas, "olhando dados em períodos de 12 meses o investimento ainda cresce em valores muito superiores à renda" nacional. Palocci procurou mostrar otimismo também quando questionado se o aperto nos juros da política monetária - que provocou uma aguda valorização da taxa de câmbio desde fins de 2004 -, não poderia esfriar as exportações, componente da demanda que mostrou o maior dinamismo no primeiro trimestre. Ele argumenta que, como a inflação dá sinais de perda de vigor, a política de juros poderia ser afrouxada brevemente , permitindo que a taxa de câmbio vá para "valores adequados para que a gente possa prosseguir neste mix de desenvolvimento do mercado interno e do comércio exterior". "Críticos anunciam desde janeiro de 2003 que, três meses adiante, teremos uma crise no comércio exterior", seguiu, dizendo que os dados da balança comercial divulgados ontem não apóiam a hipótese. "Não vejo a perspectiva - considerando o balanço de risco que envolve a política monetária - que essa postura ativa nos juros deteriore o processo de exportação." Palocci disse que o governo e parlamentares formataram, nos dois últimos dias, uma agenda de projetos prioritários no Congresso - entre eles, a reforma tributária. Para ele, as movimentações sobre a CPI dos Correios não devem repercutir na economia, desde que não interrompam a apreciação de reformas. "Seria muito negativo se a CPI fosse o único ponto discutido." O ministro disse ainda que a meta de inflação de 2006, fixada em 4,5%, não deverá sofrer mudança e que o Conselho Monetário Nacional (CMN) se reunirá para definir apenas a de 2007. Ele argumentou que, dentro das metas, já está implícita uma trajetória de queda gradual da inflação - ao contrário de 2003, quando os índices deram sinais de descontrole, e foi necessária um desaquecimento mais profundo.