Título: Dirceu nega paralisia do governo e afirma que CPI é direito da minoria
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2005, Especial, p. A12

O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, procurou ontem passar uma mensagem de serenidade ao garantir a uma qualificada platéia de empresários que o governo e o Congresso não estão paralisados. Além disso, afirmou que a economia vai produzir bons resultados em 2005. Entre suas previsões, estão o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima dos 4% e a geração de 1,5 milhão de empregos. O ministro compareceu à cerimônia de posse da nova diretoria do Instituto Brasileiro de Siderurgia, realizada na sede da Confederação Nacional da Indústria, em Brasília, ontem, um dia depois de o IBGE divulgar que o PIB do primeiro trimestre cresceu apenas 0,3% em relação ao período anterior. "Devagar com o andor. Os juros estão aí para combater a inflação e o governo faz a sua parte. A autoridade monetária vai reduzir os juros quando a inflação arrefecer", disse o ministro. Na opinião de Dirceu, os comentários pessimistas eram os mesmos em 2003, mas a inflação foi combatida com a condução da política monetária e a economia voltou a crescer mais de 4% em 2004. Quanto à temperatura política, o ministro da Casa Civil garantiu ontem que as acusações de corrupção nos Correios não vão "respingar no presidente Lula e no governo". "O governo não tem responsabilidade direta em nenhuma das denúncias", esclareceu. O momento político é de "absoluta tranqüilidade", segundo Dirceu. A recente viagem do presidente à Coréia do Sul e ao Japão foi citada como exemplo de normalidade na rotina do Palácio do Planalto, mesmo após a criação da CPI dos Correios no Congresso. Para o ministro, os parlamentares tampouco estão paralisados. Ele acredita que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a reforma tributária serão aprovadas ainda neste semestre. José Dirceu também afirmou ontem que não vê razão para o Brasil ser rebaixado por agências internacionais de avaliação de risco. Para o ministro, a relação entre dívida e PIB está caindo, o saldo comercial aumentou, a bolsa subiu, o dólar caiu e o país está crescendo. As turbulências políticas são naturais nas democracias, na análise do ministro. Ontem, durante entrevistas na CNI, citou dificuldades que o presidente dos Estados Unidos está vivendo. Segundo Dirceu, George W. Bush não consegue aprovar no Congresso sua indicação para o representante do país na ONU e também não consegue fazer uma reforma da previdência. "Temos de nos acostumar que numa democracia o governo perde e ganha. Se não fosse assim, não seria democracia", ponderou Dirceu. O ministro disse que o governo pode ter maioria no Congresso, mas pode não tê-la, o que é natural. Segundo o ministro da Casa Civil, o momento não é de crise, mas de disputa política em torno de uma "coisa legítima" que é a CPI. "CPI é sempre legítima. É um direito da minoria querer CPI. É direito da maioria analisar se ela é adequada para uma determinada investigação. Estamos numa democracia. Não é só o direito da minoria que vale. Cada um assume suas responsabilidades", sustentou Dirceu. Para o vice-presidente José Alencar, que também compareceu à cerimônia, há alguma preocupação com o índice de crescimento do PIB no primeiro trimestre, mas ainda é cedo para pessimismo. "Estamos no primeiro semestre. Não tenho dúvida que a economia vai reagir e crescer a taxas elevadas, que é o que precisamos", disse. Alencar voltou a defender ontem uma ruptura com a atual política monetária que vem elevando a taxa básica de juros desde setembro de 2004. Alencar declarou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está "sensível" ao impacto da política monetária apertada no setor produtivo. "Não tenho dúvidas de que nós teremos ainda no governo dele condições excepcionais para que o Brasil retome um período de crescimento de longo prazo", disse o vice-presidente.