Título: "Não esperem nenhuma medida populista", diz Lula
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2005, Especial, p. A12

Mesmo com a desaceleração do PIB, presidente diz que economia terá boas surpresas

Um dia depois da divulgação da diminuição no ritmo de crescimento da economia no primeiro trimestre, indicada pelo IBGE, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a economia não vai "regredir" e prometeu "surpresas" no resultado econômico deste ano. O petista disse que não vai pautar as ações do governo pela agenda eleitoral, nem irá tomar "medidas populistas" visando a eleição de 2006. "Vamos fazer tudo que tivermos que fazer, independentemente do calendário eleitoral. Este país não vai retroceder", afirmou ontem, durante abertura do Salão do Turismo, em São Paulo. Mesmo com o desaquecimento da economia, o presidente procurou afastar problemas na política econômica. "Ou acreditamos que somos capazes de fazer este país não retroceder, e eu tenho dito todo dia: não esperem de mim nenhuma medida populista porque vai ter eleição daqui a um ano e meio. Eu não estou querendo construir uma base sólida de crescimento deste país para um ano. Este país vai ter que ter juízo e vai ter que ter um ciclo de crescimento sustentável por dez ou 15 anos se a gente quiser se transformar, um dia, num país definitivamente desenvolvido". Com nova queda de popularidade, de 2,7 pontos, e intenção de voto inferior ao resultado de 2002, segundo a pesquisa CNT/Sensus, Lula reclamou das críticas que tem sofrido. "Desde que entrei no governo, todo dia se lê alguma manchete de que acabou o mundo, que está tudo errado, que a economia não vai bem. Agora, começou outra vez. Eu digo para os meus companheiros (...): este ano a gente vai surpreender outra vez. Se o ano passado foi uma bela surpresa, este ano vai ser outra bela surpresa. " Por diversas vezes, o presidente reiterou seu otimismo em relação à economia e atacou críticas feitas, segundo ele, por "pessoas azedas": "Tem gente que acorda tão azedo de manhã que dá para fazer limonada do seu suor, porque tem gente muito negativa, que não acredita nas coisas". Em seguida, reconheceu a retração econômica e tentou reverter o situação, ao dizer que "é a primeira vez que a economia do país apresenta saldo de conta corrente sem recessão. Lula disse que manterá uma "política fiscal séria" e que seu governo fez um sacrifício muito grande para evitar a volta da inflação. O petista comparou o desempenho com os resultados dos últimos dez anos, oito dos quais estava à frente do governo o tucano Fernando Henrique Cardoso. "Nós estamos crescendo a oito trimestres consecutivos, coisa que há dez anos que não acontecia", disse. Em outro momento de seu discurso de cerca de 40 minutos, para uma platéia com 300 pessoas, entre empresários ligados ao turismo e políticos, como os governadores do Rio Grande do Norte, Alagoas, Tocantins e Amapá, alfinetou gestões anteriores. "Nós já tivemos experiências demais neste país. Tem gente que entra e brinca com este país, porque faz experiência, chega perto da eleição muda a regra do jogo, ganha a eleição, 'desmuda' a regra do jogo. Nós não vamos fazer isso", disse. Em um evento voltado ao desenvolvimento do setor de turismo brasileiro, o presidente elogiou a atuação do ministro de Turismo, Walfrido dos Mares Guia, e em nenhum momento tocou na questão da CPI dos Correios. Indicado político do PTB, partido envolvido na denúncia de corrupção nos Correios, Walfrido procurou desconversar todas as questões relacionadas à denúncia, minutos antes do discurso do presidente e negou que sue partido entregará os cargos que ocupa no governo. "Você não pode ficar desconfortável porque na sua casa tem alguém que fez um malfeito", disse Walfrido, que defende a investigação. "Não podemos fingir que não tem problema. Se tem um indício, vamos apurar e quem tiver culpa, paga".