Título: Bens não-duráveis ficam fora do crédito
Autor: Carolina Mandl
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2005, Empresas &, p. B3

Uma questão está deixando analistas e empresas de bens de consumo com a cabeça quente: para aonde estão indo os recursos crescentes do crédito consignado se as vendas de calçados, roupas, alimentos e materiais de construção estão caindo? "A expectativa era de que as pessoas fossem comprar coisas de menor valor, mas isso não está acontecendo", afirma Ricardo Kobayashi, chefe de pesquisa do banco Pactual. A explicação pode estar no fato de o consumidor privilegiar os bens duráveis em vez de calçados, roupas e alimentos, grupo cujas empresas têm ações listadas em bolsa. As vendas de veículos de passeio têm crescido neste ano. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, de janeiro a abril, as vendas de automóveis cresceram 8,4% em volume em relação ao mesmo quadrimestre de 2004. A expectativa da entidade é de encerrar 2005 com um crescimento de 4%. Do lado dos eletroeletrônicos e domésticos, uma pista vem do desempenho das varejistas que vendem esses produtos. O Ponto Frio aumentou seu lucro em 250%, para R$ 6,2 milhões. As vendas líquidas subiram 21,3%. A Lojas Americanas lucrou 115,4% a mais, e as vendas subiram 35,5%. "Ninguém vai pedir crédito para comprar 20 pares de sapato", afirma Tufic Salem, analista de consumo do Credit Suisse First Boston. Para ele, ainda não se pode dizer que o consumo está em queda. "De uma forma geral, o consumo está crescendo de forma gradual, mas consistente. A diferença é que ele está demorando mais para aumentar nos bens não-duráveis." A Perdigão também acredita na retomada do consumo interno. "Apesar da expansão menor registrada no trimestre, o aumento da massa salarial durante o ano resultará em uma demanda maior por bens não-duráveis", afirma a empresa em seu relatório. (CM)